domingo, 8 de março de 2009

O que vale Manuel Alegre?

Este senhor, escritor de profissão (segundo o site do Parlamento), tem andado nas bocas da comunicação social desde 2004/2005. Mas porquê?
Aqui está um caso de alguém que ganha um mediatismo inversamente proporcional aquilo que fez ou que defendeu nos últimos 35 anos.
Não querendo esquecer o seu passado mais longínquo e repetido até à exaustão de combatente da liberdade (a militância no Partido Comunista e o exílio na Argélia), o que fez Manuel Alegre desde 1974?
Recorri à Wikipedia e que descobri? Pois, tirando uma série de prémios literários, em 35 anos, foi Secretário de Estado da Comunicação Social e Porta Voz do 1º Governo Constitucional. Daí para cá só aparecem referências a partir do ano 2004. Que andou a fazer entretanto? A lutar por alguma causa? A propor novas formas de governação? A propor revisões da Constituição para permitir a eleição de listas de independentes? A propor reformas estruturantes do nosso sistema político, económico ou social? A propor a moralização da classe e do sistema político? A tudo isto a resposta é NÃO.
Mas durante todos estes anos foi deputado à AR, eleito pelas listas do PS (o site do Parlamento confirma-o “Deputado na Constituinte, I, II, III, IV, V, VI, VII, VIII e IX Legislatura”). Partido que agora repudia por todos os meios ao seu dispor.
Ou seja, a criatura viveu 35 anos do e para o aparelho político do PS, do e para o sistema partidário português, umas vezes sentado mais à frente no plenário da AR, outras lá mais para trás, e de repente lembra-se que o partido não funciona, a democracia está doente, não há debate político, etc, etc. Mas este senhor não viveu os últimos 35 em Portugal e sentado na AR? É preciso ter lata, muita lata!
A suprema ironia é a apropriação que fez do milhão de votos que, naquele dia de 2005, recebeu da população portuguesa. Como disse ontem José Lello, ainda os deve ter guardado no frigorífico ou, coerente como é, ainda os pôs a render nalgum banco.
É curioso que Soares, Sampaio e Cavaco sempre tiveram o cuidado de, nos seus discursos de vitoria, realçarem que a maioria que os elegeu se tinha dissolvido no momento da sua eleição. Com Alegre não. Os votos são dele e só dele e ainda faz chantagem com o “seu” milhão de votos. E o PS tem assistido a tudo isto impávido e sereno. Em nome da coerência, que tanto apregoa, porque não suspende ou renuncia ao mandato de deputado para que foi eleito pelas listas do PS? Atendendo ao que tem dito, ao que tem “feito” e às posições que toma nas votações da AR que faz esta criatura no PS? Saia. Assuma a divergência. Crie um partido (a partir do MIC, por exemplo). Vá a votos. Um milhão de votos dá quase para ganhar eleições legislativas. Tem medo de quê?
Só se for de sair das luzes da ribalta onde a comunicação social o colocou e que lhe serve para alimentar a sua arrogância, o seu narcisismo, o seu egocentrismo, a sua superioridade intelectual, a sua presunção de último bastião da democracia e da virtude política.
E ideias? Um enorme vazio.
Percebe-se porque é depois de ser Secretário de Estado da Comunicação Social e Porta Voz do 1º Governo Constitucional nunca mais passou da cepa torta: apenas e só mais um deputado.

1 comentário:

DeKuip disse...

O que virá a seguir? Abandono de M. Alegre do PS, J. Lello torna-se ideólogo e sumidade intelectual do partido rosa, cisão partidária e Rightwing vota PS nas próximas legislativas? Tudo é possível! Esperemos pelas cenas dos próximos capítulos...