quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A travessia do Tejo e o ambiente em Portugal

Ontem, o ministério do ambiente deu luz verde para aquela que se designa por 3ª travessia do Tejo. Pelo que se ouve e se lê, fê-lo com algumas recomendações: portagens mais caras nas horas de ponta, limite de velocidade, etc. São recomendações, não condições. Por isso, o governo está livre para as seguir ou não. Parece-me bem.
Assim, vai o ambiente e a sua preservação em Portugal. Pode-se avançar, mas recomendamos aqui umas coisinhas. Não que tenham que segui-las, mas parecia mal dizer sim sem mais. Iria alguma vez o ministério do ambiente chumbar uma proposta do ministério das obras públicas ou de outro qualquer ministério?
Hoje de manhã, oiço, na RTP 1 uma senhora da Quercus indignada e a proclamar que a sua organização vai pôr uma queixa em Bruxelas. O jornalista pergunta-lhe que resultados pode ter essa queixa. Ao que ela responde, com satisfação, que pode impor uma coima ao Estado Português.
Eu não tenho excessivas preocupações ambientais e menos importância ainda dou às organizações pseudo-defensoras do ambiente. E este tipo de respostas basta para que eu não mude de opinião. Ou seja, um problema ambiental sensível resolve-se com: 1) umas recomendações, sem qualquer obrigatoriedade de serem cumpridas e; 2) com uma coima.
Calculo que o “ambiente” agradeça tanta preocupação com o seu estado.
Depois há a enorme demagogia e hipocrisia utilizada para defender a nova ponte: a melhoria da mobilidade dos cidadãos. Promove-se essa mobilidade, mas cobrar-se-ão portagens para reduzir o fluxo de trafico (por causa da poluição provocada). Faz-se uma nova ponte com três faixas de rodagem em cada sentido, mas limita-se a velocidade a 70 km (por causa da poluição provocada). Muitas preocupações com a poluição mas promove-se a entrada de mais uns quantos milhares de veículos em Lisboa. Mas para que não sejam assim tantos a entrar, pensa-se em cobrar portagens mais caras aos veículos que circulem só com uma pessoa.
Será que ninguém pensa a sério numa política de mobilidade integrada com as questões ambientais e económicas?
Já agora, só mais uma pergunta: eu quando compro um veículo pago o imposto automóvel (dos mais elevados da Europa), o IVA (dos mais elevados da Europa), o imposto de circulação, o gasóleo (onde os impostos incluídos no preço são dos mais altos da Europa), porque raio tenho de pagar mais se circular sozinho?
O Estado, quando eu compro o automóvel não se preocupa por haver mais um carro a poluir (quando mais se vendar melhor, pois maior é a receita fiscal), quando constrói mais uma ponte para (com fins muito pouco claros) “facilitar a mobilidade” não se preocupa com a acréscimo de poluição daí resultante, quando não faz respeitar os corredores bus não se preocupa com o tempo perdido na circulação dos transportes públicos, mas preocupa-se apenas com os carros com uma só pessoa. Isto é, claramente, uma restrição à minha liberdade de ter e de usufruir do meu carro.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Livros e tendências

Há uns dias, à hora de almoço, entrei numa livraria perto do meu local de trabalho onde costumo passar algum tempo a ver as novidades. Desta vez, porém, foram as reedições e não os títulos novos que me chamaram a atenção.

Logo à entrada da livraria destacava-se o livro de Miguel Sousa Tavares "Equador". Pela curta conversa que tive com a pessoa responsável pela livraria, parece que é um título que vende bastante bem de novo, muito por causa da série da TVI com o mesmo nome (que até é, na minha modesta opinião, engraçada).

Mais escondida dos olhos dos potenciais leitores estava um sector quase exclusivamente dedicado a Darwin e a todas as publicações que, de uma forma ou de outra, têm algo a ver com este cientista. Isto por causa dos 200 anos do seu nascimento, do século e meio da publicação do "A origem das espécies" e de todos os eventos que têm sido feitos para celebrar a vida e obra deste cientista (a propósito, disseram-me que a exposição na Gulbenkian vale mesmo a pena ir ver).

Algo estranho é que o livro "A Origem das Espécies" não tenha sido traduzido para português. Pelo menos para o português de Portugal. Parece que está a ser traduzido, depois de 150 anos de ter sido publicado. Enfim, mais vale tarde do que nunca.

Já agora, a destoar um bocado das tendências gerais, noto também que está disponível nas livrarias uma tradução do livro "O caminho da servidão" ("The road to serfdom", no original) de Friedrich Hayek. O livro, publicado em 1944, é um manifesto liberal (no sentido europeu do termo), sendo curioso assistirmos em Portugal à sua edição numa altura em que os tempos não correm de feição a esta forma de pensar a sociedade e a economia. Prefácio do inevitável João Carlos Espada. Quem mais poderia ser?

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

A normalidade do casamento homossexual

Em relação ao post do dekuyp (Tiros nos pés) apenas concordo com duas coisas: o facto do casamento homossexual ser uma inevitabilidade, dado o ar do tempo que estamos a viver, e a questão da argumentação usada. Mas em relação a um dos argumentos, o da oportunidade do momento, deve-se referir que foi o PS e José Sócrates que o utilizaram há bem pouco tempo, na AR, aquando das propostas dos da extrema esquerda. Em relação às palavras do Sr. Cardeal Saraiva Martins não as vou comentar. Mas surpreende-me que a tertúlia do casino da Figueira da Foz apenas seja notícia quando lá vai um clérigo. Mas enfim…
Agora não concordo e, particularmente, não gosto do juízo que faz sobre quem pensa de maneira diferente da sua e que, no fundo, vai fazendo o seu caminho, perante a passividade e a indiferença dos que não pensam desta forma (e não é apenas a Igreja Católica).
Independentemente das considerações que fez sobre o casamento (voltarei a este ponto noutra ocasião), a argumentação de que todos os que consideram a homossexualidade como uma anormalidade ou um desvio comportamental são atrasados, retrógrados ou, pior, tolinhos é ofensiva. Só falta apelidá-los de homofóbicos como alguns sectores (mais sectários, passe a redundância) gostam de faze-lo, seja qual for a razão. A questão é a seguinte (e peço desculpa por usar a base da argumentação desse vulto da tolerância que é Francisco Louçã):
Ponham, em isolamento três grupos:
Grupo 1: um casal de dois coelhos machos
Grupo 2: um casal de dois coelhos fêmeas
Grupo 3: um casal de dois coelhos, um fêmea, outro macho
Pergunta: Qual acham que poderia garantir a sobrevivência da espécie?
Para quem ainda acredita que essa sobrevivência só pode ser garantida pelo grupo 3 (e que, calculo eu, devem ser poucos dado o grau de anormalidade que os caracteriza), pergunto: portanto a anormalidade é considerar normal a única combinação que pode garantir a reprodução e a sobrevivência da espécie, é isso?
A consideração de anormalidade ou de comportamento desviante resulta deste facto. Não resulta de qualquer preconceito, reprovação, rejeição ou discriminação perante aqueles que assumem esse comportamento. Cada um é livre de tomar o rumo que deseja. Não me diz respeito. É uma decisão ou uma orientação individual. Eu posso não considerar normal e não compreender determinado posicionamento mas aceito-o, desde que não interfira com a minha liberdade e não limite as minhas opções. Agora não queiram “impingir” que é um comportamento normal. Não é, é anti-natura. Mais, porque é que nesta discussão não entra o casamento poligâmico, também ele legal em vários países e fazendo parte da norma em várias sociedades? Porque é que quem defende com tanto zelo o casamento homossexual afasta da discussão o casamento poligâmico argumentando que se trata de outra discussão? Não é discriminar outras opções e orientações? Se for a vontade de todos os indivíduos envolvidos, não será uma opção tão respeitável e tão defensável como o casamento entre duas pessoas do mesmo sexo? Ou será que terá de esperar até que alguém se lembre do casamento poligâmico homossexual para se tornar “normal”?

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Greenspan apoia nacionalizações de bancos

A partir do blogue do economista Paul Krugman cheguei a esta notícia. Allan Greenspan, antido governador do FED e defensor das virtudes do mercado auto-regulado enquanto esteve lá sentado, apoiou publicamente a necessidade de alguns bancos serem (temporariamente) nacionalizados. Realmente, o mundo dá cá umas voltas...

Uma coisa é certa: mais uma intervenção deste estilo - já pediu desculpas por ter acreditado tanto nos poderes mágicos da auto-regulação - e juro que ponho a auto-biografia dele, que li no ano passado, no caixote do lixo... E talvez vá até pedir uma indemnização à editora!

Tiros nos pés

Como mais ou menos se estava à espera, a polémica relacionada com o casamento homossexual está na ordem do dia. Agora são as declarações do cardeal D. José Saraiva Martins, residente no Vaticano há muitos anos, a fazer manchetes um pouco por todo o lado.

Este membro da Cúria Romana terá dito que o casamento homossexual não é normal. Também terá dito muitas outras coisas como, por exemplo, que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é um assunto que diz respeito ao estado civil e que, por essa razão, a Igreja não se deve intrometer. Uma posição sensata, a meu ver.

O que dizer, então, da afirmação dsobre a anormalidade do casamento homossexual? Para mim, apenas há a dizer que tais afirmações têm de ser relativizadas tendo em conta o que pensa a Igreja Católica sobre o assunto.

Durante séculos, o casamento foi um assunto quase exclusivamente guiado pela Igreja Católica. A partir da inclusão do casamento no conjunto dos sacramentos católicos a Igreja passou a orientar, através do seu conjunto de valores, importantes aspectos da vida humana. Ao mesmo tempo assegurava que a perpetuação da espécie e, por arrastamento, a da própria Igreja, se fizessem dentro destes valores. Casamento, valores católicos, procriação e o sexo estavam, desta forma, indissociavelmente ligados entre si. Assim, para um membro do clero romano, não é normal haver casamento sem intuito de procriar, logo a “anormalidade” do casamento gay.

Penso que, ao contextualizarmos desta forma a afirmação do cardeal D. José Saraiva Martins, os brados mais ou menos exaltados que se fazem agora sentir sobre a anormalidade das suas declarações perdem um bocado o sentido. A não ser que pensemos que o cardeal quereria dizer que a homossexualidade é, em si mesma, uma anormalidade ou uma doença. Mas não quero acreditar nisto. Especialmente porque vivemos no século XXI...

De qualquer forma sou contra exaltações e argumentos exaltados. Venham eles de onde vierem. Não adicionam nada de útil a uma discussão séria. Sejam ela sobre futebol, economia ou, como é o caso, sobre o casamento homossexual. Já agora, aproveito para dizer que tenho achado os argumentos de quem é contra ridículos e pouco inteligentes. Dizem, que “não é o momento oportuno” (porquê?), que só sete países no mundo é que legalizaram este tipo de matrimónio (sim, e daí?), ... Enfim, para quem quer travar esta situação, são só tiros nos pés...

O casamento entre pessoas do mesmo sexo é, quanto a mim, algo que mais cedo ou mais tarde será uma realidade. Isto se não regredirmos, de um momento para o outra, para a Idade Média. É que, num estado laico, não faz sentido haver este tipo de restrições. Querem casar? Pois que casem. Não o façam é perto de uma igreja.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Um final digno

Quem se desloca todos os dias a Lisboa para trabalhar já reparou com certeza no quase desaparecimento dos jornais gratuitos das ruas da capital portuguesa.

Antes do fim do verão estes jornais vinham parar às nossas mãos quase sem darmos por isso. Agora é preciso procurá-los. No actual contexto económico, terão sido duramente atingidos pela diminuição das receitas provenientes da publicidade.

Com esta situação cai também uma fonte de receita alternativa para todos aqueles que distribuíam este tipo de imprensa. Já estava quase habituado a vê-los todas as manhãs, dois, três ou mais destes distribuidores dedicados a entregar, numa azáfama competitiva impressionante, pilhas de jornais à porta das principais estações do metro e do comboio.

Estudantes, cidadãos com sotaque brasileiro ou do leste europeu, de tudo existia um pouco entre aqueles que complementavam os seus rendimentos com a distribuição de jornais gratuitos. Terão sido estes os que mais terão sentido directamente os efeitos do rápido encolhimento do mercado da imprensa gratuita e aqueles que, como habitualmente, de quem menos se fala.

No meio disto tudo registo um facto positivo. A diminuição das tiragens e o desaparecimento de alguns títulos tornaram a capital mais limpa. É que quando as tiragens destes periódicos eram grandes e existiam muitos títulos no mercado, não era infrequente vermos caixotes do lixo a abarrotar de gratuitidade e as ruas de Lisboa cheias de folhas compradas a custo zero.

Ora aqui está uma situação em que a recessão económica se encarregou, por si só, de resolver um problema resultante da infeliz combinação entre a gratuitidade e a falta de civismo.

Espero sinceramente que este mercado volte a florescer. Até porque seria, muito provavelmente, um sintoma da retoma económica. Mas espero igualmente que, caso voltemos às grandes tiragens de antigamente, que pelo menos os jornais coloquem uma frase na primeira página a dizer qualquer coisa do género: “Leia, consuma mas não polua: dê ao seu jornal um fim digno”.

As cartas de Obama

Ontem, domingo, foi notícia em todos os telejornais o facto de Barak Obama ter escrito ao Presidente Cavaco Silva e ao Primeiro-Ministro José Sócrates. E parecia ter sido algo extraordinário: a vontade de estreitar laços de amizade, a vontade de trabalhar em conjunto, etc. etc. O País, Portugal, deveria ficar orgulhoso. Afinal Portugal era um dos eleitos. Fantástico!!!
Ninguém se lembrou que, mais não seja por uma questão de cortesia, Obama deveria ter enviado cartas a todos aqueles que o congratularam pela vitória. Parece-me perfeitamente normal. Mas a comunicação social portuguesa, não. Achou que Portugal finalmente teria o seu espaço, graças a Obama. Pobre Portugal quando se dá relevo a uma simples carta de cortesia e de agradecimento de um presidente eleito.

PS: Parece que ao rei Juan Carlos, Obama terá telefonado. Imagino o orgulho dos meios de comunicação social espanhóis! Para a próximo só fico satisfeito se Obama vier dar um abraço e um beijo a Cavaco e a Sócrates. Bem, Sócrates terá garantido um abraço. Do seu amigo Chávez, finalmente com carta branca para passar de proto-ditador a ditador.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Dados fresquinhos sobre uma recessão

Dados fresquinhos sobre a situação económica portuguesa. A estimativa rápida para o terceiro trimestre de 2008 aponta para uma contracção de -2,1% do produto interno bruto (variação face ao mesmo trimestre de 2007). Confirma-se, com estes dados, o cenário de recessão técnica (pois temos agora dois trimestres consecutivos com taxas de crescimento negativas) e de forte contracção económica. Mais informações podem ser vistas aqui.

Hoje, o Eurostat divulgou que o produto interno bruto da Zona euro variou -1,5% no mesmo período. (Ver destaque de imprensa aqui.)

De igual forma, o índice de preços no consumidor português apresentou uma variação em Janeiro de 2009, face ao mesmo mês do ano anterior, de 0,2%. Nunca me lembro de ver valores tão baixos para a taxa de inflação. Mais informações sobre a inflação do mês de Janeiro podem ser vistas aqui.

Seriam munições para a oposição para o debate na Assembleia da República sobre economia, tema aliás escolhido pelo Primeiro-ministro José Sócrates... não fosse o pequeno pormenor de o debate ter sido feito na quarta-feira!

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Um blogue interessante

Mais um blogue com interesse, desta feita a adicionar à listagem daqueles que partilham uma visão mais à esquerda da vida política. Chama-se Outubro e pretende ser um espaço de ideias como o objectivo de melhorar a qualidade das políticas públicas seguidas em Portugal. É relativamente recente. Reconheço, para além das figuras mais ou menos mediáticas que aparecem na lista de colaboradores do blogue, professores do ISEG e do ISCTE.

Navegar à vista, contra a corrente ou simplesmente o regresso da coordenação estratégia?

Aqui e ali ouvem-se ecos de mais proteccionismo. Paul Krugman, o mais recente Nobel economia e talvez o economista mais conhecido da blogosfera, refere aqui que, na actual situação económica (que para ele é tipicamente Keynesiana), existem argumentos económicos válidos para adoptar políticas proteccionistas.

Entretanto, a vida corre em Portugal. Na segunda-feira, Cavaco Silva referiu que a “solução para a crise está nas exportações” e, ontem, José Sócrates rejeitou e alertou para os perigos do proteccionismo.

Confusos? Eu estou. Para mim estas notícias são mais uns daqueles sintomas do que comummente se tem vindo a apelidar de “navegação à vista”.

Pelo menos espero que as declarações do Presidente da República e do Primeiro-ministro sejam fruto de uma concertação de posições sobre política económica. Em tempos difíceis, esta concertação é mais necessária do que nunca. Mas reconheço que esta será, porventura, é uma visão talvez um pouco ingénua.
Isto porque a mensagem do Presidente da República pode ser também ser interpretada como uma crítica implícita à política económica do actual governo bem como à resposta à crise que passam não pelo estímulo às empresas mas por mais despesa e obras públicas.

Deputado holandês "convidado" a não entrar na Grã-Bretanha

Parece que a notícia do Público da proibição de entrada na Grã-Bretanha é mesmo verdade. Confirmei-a aqui, na BBC News.

A figura em causa, o deputado holandês Geert Wilder, é altamente controversa. Tem um blogue em que se apelida de freedom fighter e é conhecido pelas suas posições radicais em relação ao Islão (basta dizer que adjectivou o Alcorão de livro fascista). Também é o autor do filme Fitna, considerado por muitos como uma pura provocação ao mundo islâmico.

A proibição dada pelas autoridades britânicas é mais um sinal dos tempos que correm. Um sinal preocupante. Preocupante por causa de muitas coisas. Não só pelo acto da proibição em si mesmo, mas essencialmente por se estar, através dele, a dar demasiada importância a uma personagem que provavelmente não a merece de todo.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Quem quer ser bilionário: um filme excepcional ou algo perfeitamente banal?


Já se sabe, o filme Quem quer ser bilionário (Slumdog millionaire, no original), de Danny Boyle (Trainspotting, A praia), é um dos principais favoritos à vitória de Óscares. Especialmente agora, após os sete prémios arrecadados na cerimónia da Academia Britânica de Artes Cinematográficas e Televisivas (BAFTA).

Em rigor, a existência de um grande consenso quanto ao favoritismo de um determinado filme não quer dizer nada. A história dos Óscares está recheada de películas que não passaram disso mesmo: de favoritos.

De qualquer forma, a julgar pela polémica e pelas apreciações cinematográficas, o mínimo que se pode dizer é que Quem quer ser bilionário não deixa ninguém indiferente. Basta olhar para estas duas críticas, uma (muito) negativa e outra positiva, para se ter uma ideia do fenómeno.

Quanto a mim, que ainda não tive a oportunidade de ver o filme, toda esta polémica parece querer dizer-me que, quando o fizer, não me vou ficar pelo meio-termo (ou, o que é o mesmo, por uma apreciação “assim-assim” do filme).

Resta-nos esperar por 22 de Fevereiro e ver se o filme vai ficar na história dos Óscares.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Demagogia = Francisco Louçã

Demagogia e muito mais: populismo, cinismo, arrogância, etc., etc. Já começa a ser altura de alguém dizer basta a este senhor e aos seus acólitos desse albergue espanhol que é o BE. Em Francisco Louça (FL) não consigo encontrar nada de genuíno, nada de autentico. Tudo soa a falso, a demagógico, a interesseiro.
Quando o vejo, vestido ao melhor estilo “beto”da avenida de Roma, com as suas camisas, blusões e blazers Hilfiger, Burberrys ou Pólo, a dar as suas lições no seu estilo de “grande educador” maoista, pergunto-me: o que defende realmente este homem? Uma pessoa perfeitamente enformada com o que de melhor tem a economia de mercado mas que, simultaneamente a desdenha e repele-a como se defendesse algo de verdadeiramente novo ou revolucionário. Como seria este homem a viver em países como a China, Cuba ou a Venezuela de Chávez?
Hoje ouvi, em directo numa rádio, a história dos 2 coelhinhos (suponho que macho e fêmea, já que o resultado eram muitos coelhinhos) e quase fiquei enternecido. Mas depois juntava duas notas de 100 euros que nada geravam (calculo que por serem do mesmo sexo, numa clara demonstração de modernidade do “capital”). Resultado: os trabalhadores tudo produzem, o capital nada gera.
Eu proponho um outro exercício: juntemos dois homens cosmopolitas, modernos que vivem com o que de melhor a vida tem, por exemplo, Francisco Louça e Fernando Rosas. Agora, apenas vestidos com as suas roupas de marca, enviemo-los para uma qualquer quinta no Alentejo. Deixemo-los lá 1 ano. No final desse período o que teriam produzido? Pois, os coelhos ainda geravam coelhinhos mas estas duas criaturas nem isso. Posso então concluir, alegremente, que os “trabalhadores” nada produziram. É fácil.
No entanto, o problema é que FL é líder de um partido que quer ser alternativa e, ainda por cima, é economista. Como é possível dizer tantas alarvidades alegremente e impunemente, sem ninguém o questionar? Já agora o que produziu e o que fez Francisco Loução de útil em prol da sociedade ou da economia? Ah pois, esqueci-me, ele não deve pertencer à classe trabalhador, deve ser da classe intelectual ou dirigente, aquela que guia o povo que vive na escuridão e não consegue pensar por si próprio. Devem ser os caminhos de Mao, de Pol Pot ou de Castro(s) e Chávez.
Que Deus nos proteja deste(s) senhor(es).


PS: a crédito de José Socrates: o facto de ser o único político que enfrenta de igual para igual FL e que rebate a sua frágil mas populista argumentação

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Bancos apertam os outros

O Banco de Portugal publicou os resultados do "Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito", de Janeiro de 2009.

Pode ler-se também aqui.

Contrastando com os anos de concessão quase desenfreada de créditos, os bancos revelam estar a restringir o acesso, a empresas e particulares. Com as justificações de que o preço do dinheiro está muito alto, os famosos ratings não ajudam, que o risco associado é elevado, o incumprimento também, as instituições que respondem ao inquérito resolvem restringir o acesso.

Desta forma, os meios escolhidos são: aumento dos spreads, aumento das comissões, diminuição dos montantes, aperto nas avaliações e relações financiamento/garantia, exigência de mais garantias ou ainda taxas de esforço mais baixas.

Se posso concordar num aperto nos critérios de concessão, com uma maior prudência, procurando evitar o incumprimento, não concordo de todo com estas medidas em simultâneo.

Há muito que sou a favor de um maior cuidado na concessão, partilhando-se a responsabilidade, cabendo a quem pede saber até quanto pode ir, mas também a quem dá, definido até quanto poder aquele receber.

Durante anos, o critério dos bancos foi suplantado pelos objectivos de resultados que levam ao lucro. Deixou de se ter cuidados, não interessava se haveria condições para o pagamento das prestações, o que interessava era vender. Quanto mais créditos, mais clientes, mais cross-selling, mais comissões, mais juros.

Depois, veio a crise e lembraram-se de que era preciso ter cuidado. Depois de injecções de capital ou garantias estatais para a obtenção de créditos internacionais, os bancos adoptam as medidas mais restritivas, levando a dificuldades para as empresas investirem e para os particulares conseguirem adquirir, especialmente habitação.

Focando nos particulares, como se pode aceitar esta restrição por todas estas vias?

Nos créditos à habitação, concordo com a taxa de esforço mais baixa (p.e. não se deixar que um agregado possa contrair um crédito cuja prestação seja acima dos 30% do seu rendimento disponível) e que avaliem as habitações o mais próximo possível do preço real (aqui a dificuldade está em saber o preço de mercado, especificamente o factor localização).
Não posso concordar que aumentem o preço dos créditos (via spreads), que subam as comissões nem que os montantes sejam baixados, levando a que a classe média não possa conseguir comprar a casa pois não tem o capital inicial.

Nos créditos ao consumo, aceito melhor os critérios de restrição, pois é aqui que os particulares mais erros cometem, endividando-se acima das suas capacidades. O consumo desenfreado pode e deve ser limitado, cabendo a responsabilidade social aos bancos e aos governos.

Em alguns países europeus, já se levantam movimentos populares ou parlamentares para questionar a banca. Aqui talvez não falte muito.

(En)fado Freeport

Retiro duas ilações do caso Freeport que, tal como hoje lemos aqui, parece ser uma fonte inesgotável de notícias frescas para os jornais.

A primeira é a de que, na minha modesta opinião, não há de todo jornalismo de investigação em Portugal. Investigação? O que parece haver são fugas de informação, pouco cuidado em confirmar fontes e muito provavelmente uma lógica de fazer “render o peixe”com a divulgação dessas mesmas fugas a conta-gotas.

Posso estar enganado, admito. Mas, na minha opinião, o que transparece no meio disto tudo é uma certa inépcia (será só inépcia?) da comunicação social em fazer o que supostamente deveria fazer: informar o cidadão. É que com tanta informação, desmentidos, comunicados, idas a Inglaterra e sabe-se lá mais o quê, é alguém capaz de saber o que quer que seja em relação ao caso? Eu não. E quase começo a ficar com raiva de quem supostamente tem.

A segunda ilação tem a ver com a investigação propriamente dita (lenta), a actuação do ministério público (corporativa) e a falibilidade da lei de segredo de justiça em salvaguardar investigações de casos potencialmente mediáticos (mais uma vez provada).

E para quem não entenda o que é uma actuação corporativa, nada melhor do que ler ou ouvir as recentes declarações de Cândida Almeida sobre este dossier. Diz ela que, em relação ao caso Freeport, houve fugas de informação mas que quase de certeza não foram do Ministério Público…. Fico mais tranquilo, obrigado.

Para mim já chega. Vou fazer como o Vasco Pulido Valente que escreveu há já algum tempo que sempre que ouve falar no assunto na televisão muda de canal. Outros que fiquem colados ao ecrã.

IRS 2008

Desde segunda-feira que é possível entregar em papel a declaração do IRS referente aos rendimentos provenientes da remuneração do trabalho por conta de outrem e de pensões (categorias A e H, respectivamente). Para quem está habituado, como eu, a entregar a declaração através da Internet terá de esperar um pouco mais, mais concretamente até o dia 10 de Março, para cumprir a sua obrigação fiscal.

Os prazos a ter em conta este ano são os seguintes:

- Entrega em papel:
  • 2 Fevereiro – 16 de Março (categorias A e H);
  • 16 Março – 30 Abril (restantes casos)

- Entreva via Internet:

  • 10 de Março – 15 de Abril (categorias A e H);
  • 16 de Abril – 25 de Maio (restantes casos).

Mais informação sobre este assunto pode ser obtida no site do Ministério das Finanças e no da Direcção-Geral de Impostos.

O simulador para os rendimentos de 2008 ainda não está disponível no site das Finanças (apenas existem simuladores para anos anteriores…). Enquanto não aparece esta funcionalidade, os cibernautas podem pesquisar na Internet alternativas credíveis. Apesar de não a ter testado, uma possibilidade é esta que é fornecida pela empresa Jurinfor.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Joke

"One sunny day in January, 2009 an old man approached the White House from across Pennsylvania Avenue, where he'd been sitting on a park bench
He spoke to the U.S. Marine standing guard and said,
"I would like to go in and meet with President Bush."
The Marine looked at the man and said,
"Sir, Mr. Bush is no longer president and no longer resides here."
The old man said, "Okay", and walked away.

The following day, the same man approached the White House and said to the same Marine,
"I would like to go in and meet with President Bush."
The Marine again told the man,
"Sir, as I said yesterday, Mr. Bush is no longer president and no longer resides here."
The man thanked him and, again, just walked away.

The third day, the same man approached the White House and spoke to the very same U.S. Marine, saying
"I would like to go in and meet with President Bush."
The Marine, understandably agitated at this point, looked at the man and said,
"Sir, this is the third day in a row you have been here asking to speak to Mr. Bush. I've told you already that Mr. Bush is no longer the president and no longer resides here. Don't you understand?"

The old man looked at the Marine and said,
"Oh, I understand. I just love hearing it."

The Marine snapped to attention, saluted, and said, "See you tomorrow, Sir"

“Eu cá gosto é de malhar na direita”

Quem disse isto? Esse pseudo-intelectual (sociólogo) que dá pelo nome de Augusto Santos Silva, ministro dos assuntos parlamentares. Onde? Numa sessão interna de debate sobre moções a apresentar ao congresso do PS. Para quem não saiba, é aquele que tem por (ingrata) missão controlar os deputados socialistas na AR. Já foi ministro da educação e da cultura. Mas a vocação deste senhor é “controlar”. Deputados, militantes, comunicação social, etc. Ontem teve duas intervenções de se lhe tirar o chapéu. Na sessão anteriormente referida, para além de “gostar de malhar na direita”, gosta também de malhar nas “forças mais conservadoras” que ele já viu na sua vida: o PCP e o BE e naqueles socialistas de direita. Calculo que falava de Sócrates a quem se opôs nas eleições directas do PS, apoiando esse símbolo da esquerda que é Manuel Alegre. Eu sei que o discurso é incoerente e quase incompreensível (sobretudo se questionarmos se este governo é de esquerda ou de direita) mas foi mais ou menos isto que o Sr. disse quando confrontado com críticas à falta de liberdade de expressão e de medo em expressar opiniões dentro do PS. Mas antes, pela tarde, achou que, para o país, o importante é ouvir a Dra. Manuela Ferreira Leite sobre o cartaz do Pinócrates. Porque o país está interessado. Curiosamente este Sr. Augusto foi daquelas virgens ofendidas que veio para a comunicação social dizer que coitadinho do meu chefe que está a ser vitima de uma campanha negra. Aí não se preocupou em dizer que era importante para o país saber se tem governantes idóneos ou não, não se preocupou em dizer que era importante saber o que de facto se passou no caso Freeport. Não, importante é a opinião da líder do PSD sobre 1 (um) cartaz exposto algures na margem sul doTejo. Confesso que vale a pena ouvir cada declaração deste “controleiro” do regime. São sempre momentos de grande elevação.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Despejar números

Dois exemplos da ligeireza e do cuidado com que, todos os dias, nos despejam números sobre os fenómenos que se passam à nossa volta.

No Prós e Contras da semana passada, Fátima Campos Ferreira, apresentadora de serviço, não se cansou de referir que o “Plano Obama” era de 800 milhões de dólares. Milhões? Quando muito serão mil milhões.

Ontem, na edição impressa do jornal Público, numa pequena notícia sobre o plano francês de relançamento económico, é referido um pacote de construção de infra-estruturas relacionadas com o sector dos transportes no valor de 870 000 milhões de euros. Mil milhões? Não serão milhões? Parece-me extremamente implausível que só o plano para as infra-estruturas francês seja superior à globalidade do plano americano para a presente crise económica...

Enfim, exemplos destes há-os aos pontapés. Talvez o essencial não seja informar bem e, já agora, com um mínimo de rigor. Talvez o essencial seja mesmo o despejar números em cima do cidadão desprevenido... O que acham? Estarei enganado?

Site sobre a guerra colonial portuguesa

A Associação 25 de Abril criou um site com um acervo de informação sobre a guerra colonial. Já tive a oportunidade de o visitar (se bem que de uma forma rápida). Salvo a existência de algumas gralhas de edição (a que me dei ao trabalho de as enviar à Associação), o site parece-me ser muito bom. Promete vir a ser uma fonte muito importante para escolas, investigadores e todos aqueles que tenham que trabalhar sobre o assunto. O site pode ser acedido aqui.

É de saudar a associação da RTP à iniciativa com o generoso fornecimento de documentários e recursos audiovisuais. A propósito de RTP, para quando a segunda parte da excelente série intitulada “Guerra” de Joaquim Furtado?

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Rankings

Gosto de rankings. Especialmente daqueles que são dos bons. Dos maus ou, melhor dizendo, daqueles que não me agradam, gosto de fazer pouco deles. Como daquele ranking da Federação de História e Estatística do Futebol que dá o Sporting como a décima sétima melhor equipa mundial e a melhor portuguesa…

Aprecio um bom ranking. Gosto muito. É que, por mais informação que tenhamos sobre determinado assunto, não há nada melhor do que um belo ranking.

Sintetiza tudo, até o que nos vai na alma. Por vezes, têm o condão de nos animar. Outras vezes o de nos entristecer... Servem, ao fim e ao cabo, múltiplos fins. Até para, como no meu parágrafo inicial, escarnecer!

É que, perante uma pergunta fulcral, um qualquer imperativo nacional, muitos de nós chegam à brilhante conclusão, à quase hilariante posição, de que o melhor, afinal, é deixar o ranking falar.

E há de quase tudo… Ele é o ranking dos liceus, de um jornal português, ele é o ranking da competitividade, do World Economic Forum, ele é o ranking académico dos economistas portugueses e dos que trabalham em universidades portuguesas. Há de quase tudo. Vindos de dentro, de fora. De institutos públicos, de organismos privados. Para quase todos os gostos, sensibilidades e opiniões. Uff!

Ah, como é bom ouvir um bom ranking falar...

Só não deveriam era deixar de nos dizer que são meros instrumentos de análise. Um entre muitos. Limitados como todos. Não deveriam deixar de nos dizer que não são portadores de verdades inquestionáveis.

Só não deveriam deixar de nos dizer que a realidade é complexa e que, em última análise, não substituem a lógica, o raciocínio e a inteligência humanas. Ah, como é bom não deixa de pensar!

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Prémios Goya

Fevereiro é muitas vezes o mês dos Óscares. Este ano não foge a esta regra, com a cerimónia da sua entrega prevista para o dia 22.

Enquanto espero pela entrega das estatuetas, vou rtomando nota dos vencedores de outros festivais de cinema como, por exemplo, os prémios Goya de ontem.

O grande vencedor deste ano foi o filme Camino, dirigido por Javier Fesser. Segundo parece, este filme, que arrebatou seis Goya, centra-se na história da pequena Alexia González-Barros y González, hoje em processo de ser beatificada. É também um olhar sobre a Opus Dei e sobre a sua influência na vida das pessoas.

Polémicas à parte, registo a capacidade do cinema espanhol em produzir filmes que lidam com temas sensíveis e simultaneamente interessantes para o grande público. Quem é que não se lembra, por exemplo, do Mar adentro?

Pena é que as coisas deste lado da fronteira não sejam propriamente assim. Por que razão parece existir alguma dificuldade em Portugal em ver temas sensíveis, tratados de forma a atingir grandes audiências, no cinema português?

Bem sei que filmes como a Corrupção, Call Girl ou até mesmo O crime do Padre Amaro parecem indicar que as coisas estão a melhorar. Mas acho que é necessário fazer mais. A dimensão do mercado e a falta de meios não explicam, na minha modesta opinião, tudo.

Um último apontamento sobre os prémios Goya. É no mínimo curiosa a categoria para a Mejor Película Europea. Será que a Academia de las Artes Y las Ciencias Cinematrográficas de España tem algum tipo de tique britânico? Afinal de contas, não é aos britânicos que lhes apontamos a existência de uma espécie de "tensão cognitiva" no que respeita à sua relutância em incluirem as ilhas de Sua Majestade no continente europeu?

Revista Ler

Comprei a revista Ler pela primeira vez o mês passado. Ainda não formei completamente a minha opinião sobre ela, até porque não tive muito tempo para lê-la, mas posso dizer de que do que li até agora gostei. Acho que é um sério candidato a entrar na minha categoria pessoal de “coisas bem feitas em Portugal”.

Apenas tenho a lamentar o preço da revista que, aliás, me vai manter afastar dela por tempo indefinido. Fico com o blogue, que acaba de ser adicionado à listagem da barra lateral deste espaço ou directamente através deste link. A propósito, a revista de Fevereiro já se encontra à venda nas bancas. Desde hoje.