quinta-feira, 29 de outubro de 2009

A triste comemoração do dia mundial da 3ª idade

Ontem comemorou-se (se assim se pode dizer) o dia mundial da 3ª idade. Ouvi a notícia logo pela manhã no noticiário da TSF. O que deveria ser um dia festivo, pois estaríamos a homenagear todos aqueles que ao longo das suas vidas contribuíram para o que somos hoje enquanto pessoas, países ou para o mundo que temos, tornou-se, cada vez, mais um dia de preocupação e de alerta para a condição infra-humana em que muitos dos idosos vivem hoje em dia. Segundo os estudos citados pela estação, a situação é particularmente grave em Portugal: muitos idosos a viverem sozinhos (embora tenham família) e completamente abandonados à sua sorte e das instituições de solidariedade que lhes vão valendo, poucos estabelecimentos de cuidados continuados, poucos lares e menos ainda com as condições mínimas e muitos sem essas condições mínimas, etc. Justificações: há muitas mas não deveria haver. Não deveria haver porque é inqualificável o que se passa. Tudo serve de desculpa, desde o pouco investimento do Estado (mais preocupados com os activos do que com aqueles que apenas são um peso) até à desestruturação da família e dos laços que se mantinham entre pais, filhos, netos, irmãos, sobrinhos, etc. O Estado tem culpa? Claro que sim. Não pode abandonar quem ajudou a construir o país só porque agora já não serve para nada. Mas os principais responsáveis são os familiares e, em especial, os filhos e netos. Hoje em dia a responsabilidade do que ainda se chama família, funciona apenas num sentido: os mais velhos (pais e/ou avós) são apenas responsáveis pela educação (muitas vezes péssima) dos filhos e netos, mas ninguém é responsável pelos pais ou pelos avós. É impressionante a percentagem de idosos abandonados, em casa, lares ou outros locais de acolhimento que, com filhos e netos, não os vêem há longos anos. E claro, mais uma vez, não se fala de pessoas (os filhos e netos) de classes baixas. Fala-se, muitas vezes, de pessoas com instrução, com carreiras e, nalguns casos, “bem vistas” no seu mundo. O novo Governo, estreia uma secretaria de estado para a igualdade, para promover algo que os visados podem e devem lutar por ela. Para quando a criação de uma secretaria de estado para a qualidade de vida na 3ª idade, para lutar por aqueles que já não podem lutar pelos seus direitos, nem deveriam porque deveriam era estar a usufruir dos benefícios próprios de quem já muito contribuiu para a sociedade.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Filosofia Voltaire

Há uma famosa frase que é apócrifamente atribuída a Voltaire. Diz qualquer coisa como "Discordo com o que dizes, mas defenderei até à morte o direito de o dizeres".

É uma frase de que gosto muito, vá-se lá saber porquê.

Tudo leva a crer de que a citação nunca tenha sido propriamente dita por Voltaire. No entanto, ela é por vezes vista como uma espécie de síntese da sua maneira de pensar (se é que isto se pode fazer da vida e obra de uma pessoa) ou como uma espécie de ícone do seu pensamento.

O pensamento de uma figura do século das luzes que teve problemas com a Igreja Católica e outros do seu tempo.

Uma ideia do caudilho

Um facto histórico interessante. Franco, de acordo com documentos que foram divulgados pelo historiador espanhol Manuel Ros Agudo, pediu ao seu Estado-maior um plano para a invasão de Portugal.

Este "grande projecto", segundo é noticiado neste artigo do Público, foi preparado em 1940 e previa a "união ibérica forçada" após um ultimato de 24/48 horas.

A confirmação deste facto não é, por sí só, uma surpresa. Deve ser, como é óbvio, interpretado no contexto da época. Aliás, o plano, atrevo-me a dizer, deve ter sido escrito num àpice até porque nessa altura já existia suficiente "literatura" sobe o assunto: Franco, enquanto cadete da Escola militar de Toledo, escreveu a sua tese de fim de curso sobre este "tema" (chamava-se, segundo consegui confirmar aqui, "Como ocupar Portugal em 24 horas").

Não é surpresa mas é um facto histórico. E mostra que pelo menos até ao fim da Segunda Guerra Mundial o receio português de anexação pela força pelos nuestros hermanos era bem real.

Como as coisas mudaram em 60 anos...

domingo, 25 de outubro de 2009

O "novo" Governo

E pronto temos Governo. Sócrates desembaraçou-se dos ministros mais polémicos ou mais desgastados (Lurdes Rodrigues na educação, Mário Lino nas obras públicas, Nunes Correia no ambiente) e substituiu-os por caras desconhecidos do grande público. Ou seja, tratou-se sobretudo de terminar uma remodelação governamental que tinha começado com a substituição de Correia de Campos (saúde) e Pinho (economia). Em termos orgânicos a maior alteração é a passagem da gestão do QREN do ambiente para a economia de Vieira da Silva (o que já era uma ambição antiga deste ministro). Temos pois um governo de figuras desconhecidas, algumas lançadas apenas para cumprir critérios de quotas. Neste aspecto Sócrates ainda tem muito a aprender com o seu amigo Zapatero. Este além de cumprir quotas, cumpre-as com algum sentido estético. Sócrates ainda e só se preocupa com o seu cumprimento. Já agora, para aqueles quês e queixam que o governo de Sócrates governa à direita, vale a pena lembrar que Vieira da Silva (economia) e António Mendonça (obras públicas) são socialistas-novos, tardiamente reconvertidos depois de anos de militância comunista. Sem grandes expectativas sobre este governo (ou qualquer outro deste ou de outro partido) vamos ver o que isto dará.
Pelo menos teremos novos argumentos para a colecção “Uma aventura…”. Devem seguir-se os números “Uma aventura no Ministério”, “Uma aventura no Governo”, “Uma aventura na manifestação”, “Uma aventura com os sindicatos” e por aí fora.

PS: para já o governo começa bem com a grande prioridade a ser o “casamento” homossexual. Um assunto que, de facto, preocupa o país. Bravo!!!

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A incontinência verborreica de Saramago

Declaração de interesse: Não gosto de Saramago. Para além de representar o que de pior há no comunismo (ou deverei dizer estalinismo), é um incontinente verbal, um ser egocêntrico, truculento e um hipócrita da pior espécie. Não vou entrar na polémica da Bíblia. Do Livro em si mesmo, e de religiões Saramago já demonstrou ser uma nulidade absoluta. Agora é preciso ver o porquê da sua verborreia contra a religião em geral, e a católica em particular. Sendo um “comunista” radical, abomina tudo o que seja mercado ou livre iniciativa. O mundo deveria girar segundo os seus cânones absolutistas e pouco ou nada democráticos. O mundo ocidental, que lhe permite ter o tipo de intervenções que tem, é o inferno “governado” por seres malévolos que vão desde os governos democrática e livremente eleitos, até à Igreja Católica. No entanto, quando publica um livro, escrito lá do seu refúgio dourado de Lanzarote, aplica sempre as melhores técnicas de marketing e as ferramentas mais sofisticadas que o mundo globalizado põe à disposição de todos, de forma democrática. Assim, recorre ao insulto, à agressão, à polémica para atrair a atenção daqueles que, de outra forma, nem se lembrariam que o senhor – com letra bem minúscula (não confundir com o Senhor!) ainda existe. A técnica é sempre a mesma: primeira lança a senhora Pilar, depois aparece com um qualquer dislate, de preferência contra a Igreja Católica ou os governos ocidentais. E assim lá nos lembramos que a criatura lançou mais um livro. Qual é mesmo o nome do livro?
Isso não interessa nada, desde que a sua conta no banco (outro dos demónios) se encha mais um pouco.

PS: No post “Caim e Abel” não concordo com o DeKuip. O assunto não é sensível se debatido com conhecimento e tolerância e respeito por quem tem ideias diferentes das nossas. O problema de Saramago é a sua total ignorância sobre o assunto em causa, ou pior, a sua total intolerância perante quem pensa e age de forma diferente da sua. Quanto à ideia de renunciar à nacionalidade: a ideia foi do escritor que há uns anos atrás amuou com o Governo português. Por mim, até assinava uma petição para o incentivar a essa renúncia.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Maitê, os portugueses e Portugal

Duas pequenas notas sobre a polémica relacionada com o vídeo de Maitê Proença sobre Portugal e os portugueses (ver vídeo aqui; pedido de desculpas aqui).

A primeira é que me parece que o assunto tem sido excessivamente empolado. Penso que nem o programa de TV brasileiro em causa (Saia Justa) nem sequer a protagonista (Maitê Proença) são merecedoras de tanta atenção.

A outra nota que gostava de deixar é a de que também conheço pessoas que cospem em locais públicos. Elas têm quatro ou cinco anos de idade e, à semelhança do que Maitê nos faz ver no seu vídeo, também acham que são muito engraçadas com este tipo gracinhas.

Caim e Abel

Muito já se disse sobre as declarações proferidas este último fim-de-semana por José Saramago a propósito da Bíblia. Defini-la como um "manual de maus costumes" e um "catálogo de crueldades" é algo que, para além de polémico, pode muito bem ser visto como um golpe publicitário da parte do autor de Caim.

Sim, é polémico. O autor, reincidente nestas polémicas opiniões, toca, uma vez mais, em assuntos muito sensíveis.

De qualquer forma, fico sempre sempre surpreendido com as reacções que estas polémicas geram em certos sectores da sociedade portuguesa. Querem um exemplo? A reacção do eurodeputado Mário David (ver aqui). O que dizer da "vergonha assumida pelo eurodeputado em ser compatriota do escritor"? E do pedido (sim, leu bem, é um pedido...) para Saramago renunciar a cidadania portuguesa? Não sei. Talvez que seja um pouco despropositada e... exagerada?

Ainda bem que há reacções muito mais interessantes sobre a mesmíssima polémica. Querem um exemplo? A do padre e teólogo Carreira das Neves, que podem ser recuperadas aqui.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

ANC Versus CNC


Meses após a Autoridade Nacional da Concorrência (ANC) ter tido um papel pouco decoroso pela sua TOTAL interiorização da posição e argumentos das distribuidoras no mediático caso do aumento de preços dos combustíveis, chega desde Espanha esta notícia sobre a Comisión Nacional de la Competencia (CNC). Diversas associações de produtores de alimentos foram multadas (alguma com quantias de até 500.000 Euros) por práticas contrárias à concorrência. Já agora, quem não se lembra de aquelas gloriosas 500 páginas de “areia nos olhos”?

O assunto nasceu em 2007, quando os preços de diversos alimentos básicos (leite, ovos, massas, pão, entre outros) aumentaram de maneira anormal, atingindo máximos históricos. A CNC abriu um processo, e chegou à conclusão de que as empresas tinham concertado uma estratégia para passar aos consumidores, de maneira concertada, os aumentos de preços nos mercados internacionais de várias matérias primas usadas nos seus produtos.

E no site da própria CNC:

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

O tambor de lata, 50 anos depois

Hoje, quando visitava o hipermercado para comprar mais umas coisas para casa, tive uma surpresa. Na secção dos livros, prateleira das novidades, estava uma tradução do livro O tambor de guerra do escritor alemão Gunter Grass.Cinquenta anos depois da sua publicação, finalmente uma tradução para o português de Portugal.

Há uns meses atrás, tentei obter uma cópia deste romance. Na altura, foi-me dito que em tempos existiu no mercado uma tradução para o português do Brasil. Infelizmente essa edição encontrava-se esgotada. Digo infelizmente pois este livro é uma das obras mais importantes deste escritor a quem já foi atribuído o Nobel da Literatura.

Mais um aspecto importante. O livro, colocado no mercado pela Dom Quixote, parece ter sido traduzido com qualidade. A tradutora, inclusive, gozou de uma bolsa concedida pelo instituto Goethe para a sua tradução.

São portanto boas notícias, especialmente para todos aqueles que - tal como eu - ficaram desiludidos com a qualidade da tradução do trabalho autobiográfico do mesmo autor Descascando a Cebola.

sábado, 10 de outubro de 2009

Jogar ao ataque...

Em 2000, lembro-me de uma crónica de Valdano num jornal inglês. Estávamos no início do campeonato da Europa e Portugal tinha acabado de vencer a Inglaterra por 2-3. Dizia Valdano nessa altura que Portugal jogava um futebol "rendilhado" e muito técnico, quase como se marcar golos não fosse de todo em todo importante para os jogadores.

Penso que esta descrição se mantêm válida ainda nos dias de hoje. Aliás, acho irritante, especialmente nas qualificações, o destaque que se dão às exibições em detrimento dos resultados.

Pois bem, acabo de ler um resumo de uma conferência de imprensa de Carlos Queiróz que parece corroborar isto mesmo. Diz o seleccionador das quinas que a selecção "foi sempre uma selecção de ataque" e que atacar significa também "jogar bom futebol". Jogar bom futebol? E golos, já agora, não interessa para nada?!

Esta fixação em querer jogar bonito é, permitam-me a redundância, muito bonito. Mas não chega para qualificar uma equipa. Num "mini-campeonato" com 10 jogos ou qualquer coisa do género, o que interessa é ganhar pontos. Marcar golos. Sofrer poucos. Enfim, ser objectivo.

Há uns dias atrás, um colega da Suécia disse-me que reconhecia que Portugal jogava bom futebol e que, talvez por causa disso, merecesse estar no Mundial. Estava a ser simpático. De qualquer forma dicordo desta posição. O mérito ou demérito de uma equipa em relação às demais são subjectivos. O jogar bonito ou feio também. Os pontos que se conquistam e os golos que se marcam não.

É claro que gosto do bom futebol. Mas penso que se Portugal quiser ter uma presença mais assídua em fases finais de campeonatos de futebol tem de se focar mais nos resultados. E ter dirigentes à altura de responder pelo seu cumprimento ou incumprimento. Até porque é difícil que Portugal venha a produzir, para todo o sempre, equipas que possam "jogar bonito". Ou estarão à espera que um país com 10 milhões esteja sempre a produzir jogadores como Cristiano Ronaldo, Figo e Rui Costa?

Uns dias antes de sair de Portugal ouvi Simão Sabrosa dizer qualquer coisa do género como o "estar preparado para fazer uma grande exibição". Espero que isso queira dizer golos.

E já agora boa sorte para o jogo de Portugal. Na Hungria não se fala dele.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

NOBEL (to) OBAMA

Soube pela BBC World News que o Nobel para da Paz foi atribuído ao presidente dos EUA. O mundo inteiro parece estar agora a discutir se o prémio foi bem atribuído e a tentar saber o que é que Obama fez para o ganhar.

Na minha opinião, penso que tudo depende da perspectiva com que se analisa o Prémio. Para mim, a sua atribuição a Obama faz sentido.

E porquê?

Porque me parece que, por vezes, não é tanto o que os nomeados fizeram para merecer o prémio que conta, mas sim o sinal que o Comité Nobel pretende dar ao mundo e que, em conjunto com o mérito do candidato, são determinantes para a sua atribuição.

Não estou a discutir o mérito de Obama. Não. O presidente dos EUA teve o mérito de voltar a abordar assuntos que estavam congelados há muito tempo. (Nesse sentido, até acho que o prémio devia ser repartido com Bush que tive o "mérito" de as bloquear completamente...).

O que estou a dizer é que o prémio é mais um incentivo a Obama para continuar os seus esforços com vista ao desarmamento nuclear, ao estabelecimento de um diálogo frutífero com o mundo islâmico, ao reforço do multilateralismo no plano das relações internacionais. E um sinal a todos de que é este o caminho a seguir.

Mas esta é a minha opinião, e como tal, sujeita a crítica...

Na próxima segunda-feira teremos o anúncio do prémio Nobel da economia. Será às 12h00 de Lisboa. Não avanço nomes, embora ficasse muito surpreendido se, por exemplo Eugene Fama o ganhasse... De qualquer forma, se estiverem interessados em saber nomes, este site apresenta resultados de uma pool sobre o assunto. E este artigo também avança nomes.

Que sinal irá o Comité Nobel dar segunda-feira vez ao mundo?

sábado, 3 de outubro de 2009

World Economic Outlook (Outubro)

A versão completa do World Economic Outlook já está disponível no site do FMI. Com o relatório de Outubro é também actualizada a base de dados com as previsões do FMI por país (e não apenas das principais economias e zonas económicas). A ideia de recuparação lenta em "U" parece ser agora mais consensual entre os economistas. Para Portugal estimam uma taxa de desemprego de 9,5% para 2009 e 11% para 2010.

A base de dados do WTO pode ser consultada aqui.

Algumas notas e notícias dispersas

Esta, sobre o estímulo que a última comunicacao do PR produziu nos hackers, é ilariante. Pode ser vista aqui e tem o título de "Tentativas de intrusão no sistema informático do governo duplicaram após comunicação do PR".

O "Sim" na Irlanda parece que vai ganhar de acordo com a seguinte notícia do Público on-line. Já ontem deixei um post sobre este assunto. Apenas um reparo marginal: que pena este referendo estar a acabar, pois nao consigo imaginar uma campanha de publicidade mais barata e eficaz a Lisboa do que as frases "Yes to Lisbon" ou "No to Lisbon".
Grande campanha de publicidade! Parece que há a possibilidade de ela voltar a acontecer se o partido conservador ganhar no Reino Unido...

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Ainda Cavaco

Não resisto a divulgar esta frase que acho fenomenal. Li-a no site do jornal Público e foi escrita por Pedro Ivo de Carvalho, um jornalista do Jornal de Notícias.

"O desconforto é parte integrante da condição humana, mas até o presidente da República devia saber que há alturas na vida em que temos mesmo de engolir o sapo".

Voilá!

Lisbon Treaty

Hoje cerca de três milhões de irlandeses votam o Tratado de Lisboa. amanhã é que vamos saber o resultado desta consulta popular.

Caso tivesse de votar, caso fosse um cidadão irlandês, diria sim. Mas confesso que me sentiria um bocado aborrecido com a ideia de ser chamado a dar a minha opinião, again and again, até que o "sim" aparecesse como resultado final.

E também me sentiria um bocado "aborrecido" com o espectáculo que normalmente se segue a um "não". Viagens (neste caso) a Dublin, negociações de contrapartidas, comissário para aqui, "doces" para ali... Enfim, uma panóplia de coisas, nenhuma das quais sobre que caminhos tencionamos trilhar. Nada sobre que projecto queremos para a Europa. Nicles sobre "Sim" ou "Não". Zero sobre ir por ali ou parar por aqui...

Mas a vida é isto mesmo. É o mundo da Real Politik.

Para os irlandeses este "filme"não é novo. Já o viram com o Tratado de Nice. Agora há a sequela de Lisboa. Amigos celtas, tenham paciência e votem em consciência!

O (enorme) melão de Louçã

Subiu no nº de votos. Subiu em percentagem. Duplicou o nº de deputados (+8). Ás 20h00, parecia que ia ser uma grande noite para o BE. RTP e SIC punham-no em 3º lugar firme (tanto em % como em nº de deputados – 18 a 22, dizia-se). Apenas a TVI destoava e punha o CDS/PP em 3º lugar. A ajudar a festa, o PS perdia a maioria mas o BE (ou o PCP) seria suficiente para gerar uma maioria na Assembleia e impor as suas propostas. Fazenda faz a primeira declaração. Júbilo nas hostes bloquistas. A SIC começa a corrigir dados e coloca a hipótese do CDS/PP ficar percentualmente à frente do BE mas com menos deputados. Rosas faz a segunda declaração da noite. A exaltação das hostes continua grande. Louça faz, finalmente, a sua aparição. A pose típica de tele-evangelista, sorriso de orelha a orelha e o tom, também típico, de educador das massas e de dono da razão e da verdade. Não confundir com arrogância, superioridade ou pedantismo. Não, na esquerda esses tiques não existem. Felizmente, para ele, Louçã falou cedo e sem os resultados finais. Evitou o grande melão da noite.
Afinal o auto-proclamado candidato a 1º ministro ficou em 4º lugar. Ultrapassado pelo CDS/PP (que elegeu mais 9 deputados que há 4 anos).Não chegou aos 10%. Elegeu apenas mais um deputado que o PCP (16 contra 15) e, para piorar as coisas, o resultado do PS ficou no limite mínimo esperado pelas várias projecções. Que quer isto dizer?
Bem, o BE aumentou o nº de votos em 200 mil, é verdade. Duplicou o nº de deputados, é verdade. Mas de que lhe servem esses votos e esses deputados? Para nada. A não ser para ganhar mais uns trocos no financiamento público dos partidos, o que já não é pouco. Não esquecer que o afã do BE pelo “vil” metal até os levou a votar a favor da ignóbil lei do financiamento dos partidos (depois vetada pelo PR).
Ou seja, para Louçã vai o melão da noite eleitoral. Depois de tanto prometer nas sondagens e nas projecções, ficou-se com uma mão cheia de … nada. Só para ver este epílogo valeu a pena assistir até ao fim à noite eleitoral.

PS: Parabéns ao PS (ganhou as eleições) e ao CDS/PP (que grande resultado!!!) e à TVI, o único canal que, a exemplo do que acontecera nas eleições europeias, acertou quase em cheio no escalonamento e nas % dos diversos partidos.