segunda-feira, 29 de junho de 2009

Algumas leituras interessantes

Estou quase a acabar O Cisne Negro de Nassim Nicholas Taleb. É um livro muito interessante e bastante polémico porque faz uma crítica (por vezes cruel) dos instrumentos e da forma de pensar de muitos economistas e estatísticos.

A mensagem de Taleb é clara: o mundo não é descrito por uma normal. Num ambiente cada vez mais globalizado e integrado, são os fenómenos extremos, na maior parte das vezes completamente imprevisíveis, aqueles que interessam e aqueles que marcam a vida de todos nós. Neste contexto, todos as políticas e análises feitas com base no conceito da normalidade são irrelevantes. É fácil ver por que razão muitos economistas e estatísticos devem achar o livro de Taleb polémico e irritante.

Polémicas à parte (para ter uma ideia delas basta ir à wikipédia e ver o que é dito sobre o autor), acho que o livro, tal como o trabalho de investigadoras como Deirdre McCloskey - aliás já referida neste blogue - deveriam ser referências obrigatórias em qualquer curso de economia. Ou não é a partir da confrontação de ideias que o conhecimento se desenvolve?

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Rescaldo (tardio) das eleições europeias - parte II (Europa)

Portugal faz parte do grupo de países em que os governos foram fortemente penalizados. Referenciando apenas os principais Estados, é curioso o facto de três dos governos mais penalizadas serem de esquerda (Brown em Inglaterra, Zapatero em Espanha e Sócrates em Portugal). Ao invés, governos de direita foram poupados e alguns reforçaram posições (Merkel na Alemanha, Sarkozy na França e o inenarrável Berlusconi em Itália). Dada crise económica e a constante atribuições de responsabilidades, pela esquerda europeia, ao sistema capitalista, seria de prever que os povos se sentissem tentados a punir as políticas mais ligadas ao mercado, privilegiando aqueles que advogam o Estado e cada vez mais Estado. Tal não sucedeu. Os europeus pareceram querer dizer que, se nem tudo corre bem a nível económico, não é o Estado e a sua crescente acção que irão resolver esses problemas. Ou seja, uma coisa são os “sound-bites” da maioria dos analistas (esmagadoramente de esquerda) outra é a percepção dos indivíduos sobre quem pode e como se pode ultrapassar a crise económica. Afinal ainda há esperança. Afinal ainda há uma imensa maioria que acredita no mercado e que diz não a conceitos estatizantes para a economia.

Rescaldo (tardio) das eleições europeias - parte I (nacional)

E a surpresa aconteceu mesmo. A última vez que escrevi sobre o assunto, no início da pré-campanha aquando de um debate a cinco no programa “Prós e Contras”, lembro-me que destaquei aquilo que me parecia ter sido uma péssima opção de José Sócrates pelo candidato Vital. Vital revelou-se um verdadeiro desastre. A todos os níveis. Aliás nesse debate, Miguel Portas tinha deixado isso bem claro. Assim, quando ainda há apenas dois meses atrás se falava se o PS iria ou não ter nova maioria absoluta, hoje especula-se sobre quem ganhará as próximas legislativas. O resultado das Europeias pode criar um certo elán nas hostes do PSD e o toca a reunir é sempre muito forte quando se começa a sentir o cheiro do poder. O PS, ao invés, pode cair numa onda de descrença que pode desmotivar os seus apoiantes. Para já, penso que o PS ainda está bem à frente do PSD mas que as coisas podem inverter-se. Paulo Rangel, quem diria, revelou-se uma excelente aposta de Manuela Ferreira Leite. Esta agora terá de começar a apresentar as propostas políticas, económicas e sociais para o caso de ter de vir a formar governo. O CDS sobreviveu mais uma vez às péssimas sondagens que davam como perdendo a sua representação no Parlamento Europeu. Resistiram e mantiveram os seus dois deputados. Aliás, apesar do exagerado pedido de audição ao presidente da República a este propósito, Paulo Portas tem alguma razão na eventual desmobilização e quase apelo ao voto útil que este tipo sistemático de sondagens tem sobre o seu partido. O PCP perdeu para o BE. Com isto vê o BE eleger um 3º deputado e mantém os seus dois. O BE, apesar do 3º deputado in-extremis, ficou longe dos 15, 16 e 17% que algumas sondagens indicavam. Apesar de tudo continua a subir. Vá-se lá saber como e porquê, digo eu. Agora preparemo-nos para as legislativas. O que parecia um passeio do ainda arrogante José Sócrates, pode ter-se transformado numa renhida luta pela vitória.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

Notas dispersas sobre Bucareste

Encontrei um restaurante Gambrinus em Bucareste. Não é assim tão extraordinário quanto isso. Parece que Gambrinus é o nome do santo padroeiro da cerveja. Mas ao contrário do restaurante de luxo Lisboeta, o de Bucareste já não funciona...

Encontrei Bucareste assim, com muitas portas fechadas e edifícios por restaurar.

É extraordinária a forma como os cabos de electricidade (ou de telefone?) são tratados nesta cidade. No entanto, milagre dos milagres, parece que tudo funciona. Não encontrei "puxadas". Estes postes, com carradas de fios, encontram-se por toda a cidade. Tirei a fotografia que acima podem ver perto de uma das avenidas principais de Bucareste.

O palácio que alberga o Parlamento. Mandada construir pelo ditador Nicolae Ceauşescu, muita gente em Bucareste não gosta dele. É, muito provavelmente, o edifício mais conhecido da cidade.

" A vida inspira-me", slogan do Millennium, desta feita em romeno. Também encontrei sinal do capitalismo português em Atenas.

Que mais há a dizer? Parques amplos. Famílias a passear nos parques. Mesmo de noite. Segurança. Ciclovias em praticamente toda a cidade e, por estranho que pareça, bicicletas na estrada. Trânsito infernal. Carros estacionados por toda a parte (mesmo em cima das ciclovias; eis a resposta para as bicicletas na estrada?). Preço de uma refeição por metade do que se consegue em Lisboa...

Tiananmen


Caros. Parece que com as (más) notícias campanha eleitoral e as (piores) notícias económicas passou por nós sem ser lembrado o aniversário dos protestos da praça de Tianamen. Não há muito a dizer, só lembrar aqueles que acreditaram que a sua atitude podia tornar o seu país um lugar melhor. Junto um link para umas imagens contemporâneas.
http://www.youtube.com/watch?v=XJBnHMpHGRY

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Previsões e notícias do Banco Central Europeu

Hoje a principal notícia vinda do Banco Central Europeu (BCE) não foi tanto a manutenção da taxa de juro de referência nos 1% (acção que era esperada pela grande maioria dos analistas), mas a divulgação das Eurosystem staff macroeconomic projections para a economia da zona Euro.

Estas projecções têm algumas particularidades técnicas engraçadas. Uma delas é que são apresentadas sob a forma de intervalos de confiança. Uma raridade, se tivermos em conta o que é feito por outras instituições internacionais (FMI, Comissão Europeia, et cetera). Esta é, na minha modesta opinião, uma forma mais transparente de apresentar este tipo de informação ao público.

Também é verdade que exige mais algum poder de interpretação de quem lê. Por isso o título da notícia on-line do jornal Público de hoje sobe esta matéria não seja, provavelmente, a que melhor se adapta à informação fornecida pelo BCE. (ver título aqui)

Mas voltemos às previsões. Para 2009 estimam que o PIB da zona Euro irá variar entre -5,1% e -4,1%. Para 2010 entre -1,0% e uns míseros 0,4%.

Mas talvez mais importante do que os números em si mesmo é a informação de índole qualitativa que se consegue extrair deste tipo de informação. Ou, o que é o mesmo, tentar reduzir toda a informação num único sinal. Para mim ele é o de que, de acordo com a informação disponível até agora, os técnicos do sistema de bancos centrais europeus acham que a recuperação económica nem em 2010 se vai ver. Na melhor das hipóteses apenas veremos um moderado crescimento com taxas de crescimento positivas nos últimos trimestres desse ano.

O texto com as projecções dos especialistas do sistema Europeu de Bancos Centrais pode ser encontrado aqui.

A campanha torpe do camarada Vital

Tenho dado a atenção mínima ao que já vai da campanha eleitoral para o Parlamento Europeu. E confesso que a impressão não é boa. Isto para ser simpático. Da esquerda à direita. No entanto há uma campanha particularmente má. Não má no sentido da comunicação ou dos outdoors. Péssima pelo serviço que está a prestar a uma campanha que, não esquecendo os temas nacionais, teria que ser mais elevada. Até porque o seu cabeça de lista apresentou-se como querendo falar apenas de temas europeus. No entanto, e sabemos como é difícil renegar os ensinamentos e a velha escola onda se faz a aprendizagem para a vida, o Camarada Vital simplesmente deixou de debater e resume as suas intervenções a insinuações suja, baixas, torpes e os demais adjectivos qualificativos para as suas intervenções. São intervenções ao velho estilo estalinista de, se queres destruir alguém arrasa a sua reputação, lançando boatos e calúnias que haverão de fazer o seu caminho. O que o camarada Vital está a fazer com o caso BPN é vergonhoso. Talvez porque já não possa falar de mais nenhum assunto, tantas são as suas incongruências com o partido que agora integra. Se o camarada Vital tem provas do envolvimento do PSD e dos seus actuais dirigentes que as apresente. Se sabe de algo que os demais não sabem, que o divulgue. Agora repetir insinuações, dias seguidos, sobre o envolvimento de um partido (todo o partido) num caso do foro dos negócios é baixo, é vil, é uma atitude canalha que mostra bem que jamais saberá viver com as regras da democracia e jamais esquecerá os esquemas praticados nas piores ditaduras de que temos memória. No jogo democrático não pode valer tudo. No fundo, Vital é uma saudosista. Mas isto é um sinal do país que temos, especialmente de há 10 anos para cá. Jornais, televisões e rádios, políticos, magistrados e bastonários, entre outros, com bases em fontes que preferem manter o anonimato, lançam suspeições sobre tudo e sobre todos, muitas vezes sem razão mas que afectam o bom nome dos visados e podem hipotecar as suas legítimas aspirações. Portugal hoje assemelha-se pouco a uma democracia. Tornou-se um país de delatores, de denunciadores, de caluniadores. Tendo isto como pano de fundo, em quem poderemos acreditar? É todo um país que perde a sua credibilidade. Mais, nunca se sabe quando aparece uma denúncia anónima que, por um acaso, é comunicado como um facto consumado.