Há algum tempo atrás, ao passar pelos lados do Instituto Superior Técnico, deparei-me com a situação que a fotografia retrata. No tablier de um carro podia-se ler, numa folha escrevinhada à mão, “Parquímetro Engoliu € 2”.
Achei delicioso. Não porque sou contra os parquímetros ou contra a Emel. Nem sequer porque odeie a Ordem e a Autoridade nem tão-pouco porque tenha uma qualquer costela de Anarquista. Nada disso. Achei deliciosa a candura da frase, a ingenuidade associada a ela e a ambiguidade que traz. Terá sido um daqueles espertalhões saloios que se lembrou de aproveitar do facto do parquímetro estar avariado? Ou terá mesmo acontecido a "sucção" dos dois euros? Não sei. Só sei que, caso estivéssemos num outro país qualquer, a Autoridade só teria uma resposta: “So what?”
Aqui, em Portugal, sempre há a esperança de que a Autoridade, tantas vezes maltratada e escarnecida, se compadeça com este possível exemplo de bonomia e passe a complacência num sorriso em vez de uma desagradável multa.
sexta-feira, 13 de março de 2009
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7 comentários:
Caro DeKuip, eu trabalhei no edifício ao lado do teu, junto ao Técnico. Portanto, esta não será uma realidade desconhecida para ti. Assim, durante 1 ano e meio estacionei nessa zona. Quando chegava, por volta das 9h uma de duas coisas era possível: 1) ou o senhor da EMEL já tinha passado e retirado das ranhuras os bilhetes de metro que os "agarrados" da zona punham nessas ranhuras e a coisa funcionava ou, se não tivessem passado, a máquina (ilusoriamente) ficava com as moedas e não processava o bilhete. Claro que as moedas eram depois retiradas pelo "agarrado" de serviço. Depois de falar com um dos senhores da EMEL, ele disse-me que quando for assim, deixe um papel no tablier a explicar a situação porque nós sabemos o que se passa e temos isso em consideração. O mais grave é que a EMEL tem (abusivamente, no meu ponto de vista) legitimidade para colocar os parquímetros e recolher as suas receitas. Mas também tem obrigação de manter e zelar pelo bom funcionamento dos mesmos. Coisa que, manifestamente, não acontece. Logo, o "so what" apenas seria aceitável no caso da dita EMEL zelar pelo bom funcionamente das máquinas.
Rightwing, eu uso transportes públicos. Não uso o meu carro para ir para o trabalho. De qualquer forma ficámos a saber que um senhor (qual?!) da Emel disse para colocar um papel (timbrado? com selo? com poucas linhas?) no tablier do carro. E que a Emel não "zela" pelo bom funcionamento das coisas. E que há "agarrados" na equação. Não será mais esta uma manifestação da saborosa bonomia portuguesa? De qualquer forma obrigado pelas explicações.
É sempre bom saber que há gente que utiliza os transportes públicos. Agora vamos supor que vais apanhar o metro/autocarro e o mesmo se avaria a meio do caminho. Quando retoma (vamos supor 1 hora depois) passa um fiscal e diz que tens de pagar multa porque o bilhete só é válido por uma hora: estás disposto a pagar a multa por uma avaria da responsabilidade da empresa? Ou deveria ser a Carris, Metro, CP, etc a providenciar uma alternativa que te poermitisse chegar ao destino só com um bilhete? Calculo que te sentirias reconfortado com um "avariou, so what?"
Não meu caro. Esse país de que tu falas não existe. Quando acontece uma avaria nos transportes públicos (vê-se bem que não os utilizas, ainda bem, é um privilégio tipicamente rightwing), quase nunca não aparecem fiscais. Mais uma vez, é a divina bonomia portuguesa a funcionar... E já agora, lê lá de novo o post com olhos de ver em vez de, como habitualmente, distorceres argumentos. E parabéns por dares a informação de que nesta zona é possível colocar papéis com "engoliu 2 €". Parabéns. Fica é a pergunta: sempre será 2 €, ou poder-se-á escrever 2,5€? Ou 1€? Ou por que razão nos damos ao trabalho de gastar tinta? E por que razão a Emel não coloca um outdoor com essa informação? A de que basta dizer "engoliu 2€"?
Intriga-me que alguem que me parece inteligente, nao veja para alem do que esta a sua frente. Tipicamente holandes... Nao que os portugueses sejam melhores ou piores, sao diferentes, como todos os outros. A emel nao diz nada para ficar com o dinheiro dos pobres coitados que nao sabem o que fazer e que nao protestam quando o devem fazer. Se as maquinas estao avariadas na zona eles que as arranjem, melhor, na holanda pode se ligar para a zona em que se estaciona (sistema automatico) e eles debitam na conta do telemovel. Parece me que vives numa zona bem servida de transportes publicos, parabens! por isso nao compreendes o porque de ser mesmo necessario levar carro.
Meu caro DeKuip, para encerrar esta polémica (no que a mim me diz respeito), folgo saber que, independentemente do serviço ser bem ou mal prestado ou não o ser de todo prestado, te sentes feliz por pagá-lo. É sinal que o dinheiro não te custa a ganhar. Parabéns! Eu não me importo de pagar pelo serviço que utilizo, desde que esse serviço seja bem prestado. Suponho que nas "tuas" equações tudo funcione de acordo com as hipóteses previstas no modelo. Mas a realidade, como tu o dizes não é assim. Os modelos são aproximações da realidade. Por último, eu também me alegro de ainda poder usufruir do direito de utilizar o meu carro (que comprei com o dinheiro do meu trabalho) quando e para o que me apetecer.
Ok, ok, não batam mais no ceguinho. Foi de facto não ver mais do que estava na minha frente. E, de facto, nem toda a gente tem a possibilidade de ser bem servido de transportes. E quanto ao Rightwing, uma vez mais, os meus parabéns por ter levantado a "lebre" e teres, de pronto, apontado o "foco da luz" para o local certo. As minhas desculpas por algum comentário mais ao estilo do "malhar na direita".
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