Continuo a achar uma enorme piada à forma como a comunicação social e os não-católicos reagem às declarações de altos responsáveis da Igreja Católica. Agora foi a vez de se polemizar, de novo, com as declarações do Santo Padre sobre o uso do preservativo, durante o voo que o levou de Roma para os Camarões. É óbvio que, para quem não é católico, não se pode nem deve exigir que consiga enquadrar as posições da Igreja Católica na sua forma de idealizar a vida, os comportamentos e as relações das pessoas e entre as pessoas. Essa “doutrina” é pública e é uma perfeita idiotice a forma como a ela se volta recorrentemente. Quem quer entender, entende, quem não quer, paciência. Já o apelidado conservador João Paulo II, agora elevado à categoria de ícone face ao também apelidado ultra-conservador Bento XVI, sofreu do mesmo mal.
Muito mais importante, e estas sim verdadeiramente polémicas e, por isso embaraçosas para muitos governos (incluindo o português), foram as declarações proferidas por Bento XVI no palácio do presidente angolano. Quem se atreveria a denunciar, cara à cara, um imenso rol de atropelos aos direitos humanos, civis e políticos, a corrupção generalizada, a pouco ou nenhuma preocupação com a população, o enriquecimento da oligarquia política, familiar e económica dominante, a falta de democracia, o direito das mulheres à igualdade, tc., etc.?
Basta ver a recente bajulação (o último Prós e Contras da RTP 1 foi quase pornográfico nesse aspecto), beija-mão e tratamento recebido pelo presidente angolano em Portugal, onde se calou todo e qualquer ponto que pudesse ferir a susceptibilidade desse “grande democrata” que é o presidente angolano. (nota: esta posição não é de agora, já vem dos tempos de Cavaco Silva primeiro ministro).
Num país onde a grande maioria de população vive abaixo do limiar de pobreza, onde a malária mata centenas de pessoas todos os anos, onde a raiva já matou mais de 80 pessoas em Luanda nas últimas semanas, o Papa Bento XVI reuniu mais de 1 milhão de pessoas para o ouvir. Sem esperarem receber nada em troca a não ser uma proposta de um ideal de vida diferente, respeitador do próximo, das liberdades individuais e da dignidade que a vida humana merece, e uma vida eterna para além da morte terrena.
Mas para alguma cabeças pensantes europeias o mais importante é o preservativo. Pois é, porque enquanto se discute o preservativo não necessitamos de discutir as questões de fundo da miséria em África.
Muito mais importante, e estas sim verdadeiramente polémicas e, por isso embaraçosas para muitos governos (incluindo o português), foram as declarações proferidas por Bento XVI no palácio do presidente angolano. Quem se atreveria a denunciar, cara à cara, um imenso rol de atropelos aos direitos humanos, civis e políticos, a corrupção generalizada, a pouco ou nenhuma preocupação com a população, o enriquecimento da oligarquia política, familiar e económica dominante, a falta de democracia, o direito das mulheres à igualdade, tc., etc.?
Basta ver a recente bajulação (o último Prós e Contras da RTP 1 foi quase pornográfico nesse aspecto), beija-mão e tratamento recebido pelo presidente angolano em Portugal, onde se calou todo e qualquer ponto que pudesse ferir a susceptibilidade desse “grande democrata” que é o presidente angolano. (nota: esta posição não é de agora, já vem dos tempos de Cavaco Silva primeiro ministro).
Num país onde a grande maioria de população vive abaixo do limiar de pobreza, onde a malária mata centenas de pessoas todos os anos, onde a raiva já matou mais de 80 pessoas em Luanda nas últimas semanas, o Papa Bento XVI reuniu mais de 1 milhão de pessoas para o ouvir. Sem esperarem receber nada em troca a não ser uma proposta de um ideal de vida diferente, respeitador do próximo, das liberdades individuais e da dignidade que a vida humana merece, e uma vida eterna para além da morte terrena.
Mas para alguma cabeças pensantes europeias o mais importante é o preservativo. Pois é, porque enquanto se discute o preservativo não necessitamos de discutir as questões de fundo da miséria em África.
10 comentários:
Angola vive, se não estou em erro, em situação de paz desde 2002. Curto para se exigir muito no que diz respeito ao desenvolvimento do país. No entanto, a visita do Papa pode ser vista como um "prémio" à paz alcançada e como um "incentivo" para a melhoria das condições de vida dos angolanos(que são paupérrimos, à luz de todos os indicadores de desenvolvimento humano). Quanto aos assuntos secundários (como o preservativo) concordo com o post: são coisas que não merecem ter muita atenção.
Ora meus amigos, uma rara oportunidade para encontrar partilhando trincheira aos caros colegas blogueiros RightWing e DeKuip. E curiosamente, em defesa do Papa…
Caros, a SIDA problema secundário de África??!! Tento na língua, camaradas!!! É provável que a SIDA tenha uma visibilidade muito menor que a guerra e a pobreza, mas de maneira nenhuma se pode pôr numa segunda linha nos problemas do continente!!! Porque a polémica do preservativo não tem a ver com o uso de anticoncepcionais, mas sim com a prevenção da infecção. De facto, este tem sido o único método (não o preservativo per sé, mas sim a educação sexual que inclui o uso do preservativo) que tem travado o crescimento alarmante da doença durante o início do nosso século. Recomendo este link, que não é suspeito de pertencer a uma produtora de látex ou a uma organização anticlerical: http://www.unaids.org/en/PolicyAndPractice/Prevention/Condoms/
Mas o Papa e os seus acólitos de categoria acham que é muito mais eficaz a prevenção através da “abstinência sexual e da oração”. Pois, pois, o problema é que as populações nem são todas cristãs nem devotas seguidoras do Papa… Se calhar o que prefere o Vaticano, no seu delírio evangelizador, é uma África católica, libré de falsos ídolos e religiões não verdadeiras, ainda que seja pagando o preço de ter uma sociedade marginalizada e condenada à doença durante gerações. Serei maldoso a mais? Se calhar. Mas então se propor soluções medievais para problemas deste mundo neste século não é maldade, será estupidez pura e simples? Afinal, o resultado é o mesmo… Sim, grande amor pela vida que estão a demonstrar: amor só pela vida dos que seguem as regras deles...
Meu caro Olho de Vidro, as recomendações do Papa, obviamente que são para os católicos. Todos os demais (com ou sem sida, de África ou do resto do mundo) não são ACONSELHADOS a seguir estas indicações. Mas serão só os africanos católicos que terão sida? Todos os que têm sida têm-na por seguir as indicações do Vaticano? Tu próprio dizes que nem todas as populações são católicas nem seguidoras do Papa. Claro que não. Mas então estas estão livres da sida. O que eu disse é que, a polémica sobre as declarações do Papa sobre o uso do preservativo são secundárias. Não o problema em si. E que essas declarações têm de ser enquadradas no projecto de vida proposto pela Igreja Católica, como o qual pode-se ou não concordar, pode-se ou não seguir. Nem toda a irresponsabilidade individual e erros na prevenção podem ser assacados ao Vaticano por muito que tenha costas largas.
Evidentemente, eu não ponho a irresponsabilidade nem os erros de prevenção individuais no Vaticano. Ponho nas suas "largas costas" uma visão do mundo que não corresponde com as realidades sociais deste século nem com os pontos de vista de uma grande parte dos católicos. A oposição recalcitrante do Vaticano à utilidade irrefutável dos preservativos e da educação sexual na prevenção da SIDA é mais um exemplo de dogmatismo intransigente (passe a redundância) que eles postulam quando o que se precisa são posições pragmáticas. Ah, já não me lembrava, o prémio é na outra vida.
Pois, estamos num impasse de onde é muito difícil sair. A questão da fé é fundamental.
Hmmm… Olhe que não, olhe que não!!! Não é mesmo um problema de fé. Eu não tenho problemas com a fé dos cristãos, mas o Vaticano sim parece ter problemas com a fé ou crenças dos outros. De acordo com Roma, os grandes problemas da sociedade europeia são o laicismo e o relativismo crescentes. Ora bem, parece-me uma clara mensagem do tipo de sociedade que se procura: não-laica (teocrática?) e não-relativista (absolutista?). Curiosamente, laicismo e relativismo, são bases da organização política democrática da qual usufruímos, e sem eles passamos a ser um instrumento ao serviço de ideias religiosas ou culturais dominantes e, per sé, sectárias. É isso o que planeia o Vaticano para a sociedade aonde eu vivo? Isso não é um problema de fé, é um problema de organização social!!! Se eu não me meto com a fé deles, porquê é que eles se metem com a forma em como eu organizo a minha vida? Reitero: com ideias medievais no século XXI não se vai longe, e provavelmente haveria mais europeus a professar a fé católica ou a viver com um certo nível de espiritualidade (que agora não existe) se a igreja católica mostrasse uma cercania aos verdadeiros problemas sociais e um entendimento com o desenvolvimento social. É pena como o Concílio Vaticano II tem sido posto de canto pelos dois últimos papas, pois foi um instrumento muito interessante de diálogo entre a igreja e a sociedade em tempos convulsos. Agora parece-me que, se nada mudar, é “nos contra eles”.
Afinal parece-me que sim, que tens um grande problema com a Igreja Católica e com a fé por ela professada. Não assumido, mas claramente tens. Mas já lá vamos.
Em primeiro deixa-me corrigir-te: não é Roma mas sim o Vaticano.
Uma coisa é uma sociedade laica, não confessional, com a qual não haverá muitos católicos que não defendam, outra coisa bem distinta é esse laicismo que tu professas e que é parecido com o comunismo e outras ideologias totalitárias que sempre defenderam a erradicação da esfera religiosa da sociedade. Claro que nessas ideologias totalitárias tal obsessão não me espanta. Mas em pessoas como tu, e demais que professam (sem o quererem admitir) esse tipo de fé na rejeição e no encobrimento de tudo o que é religioso já me preocupa e deixa preocupado. Grande conceito de democracia e de tolerância. Aliás, esses tiques de radicalismos são evidentes sempre que chamamos, aqueles que não pensam como nós, de retrógrados ou vivendo em séculos passados.
Quanto aos problemas sociais a Igreja Católica não recebe lições nem ensinamentos de ninguém. Sim de NINGUÉM. Por muito que te custe, não há nenhuma instituição, pública ou privada, que faça tanto ou mais pelos mais desfavorecidos do que a igreja católica. Seja no apoio aos pobres, aos tóxico-dependentes, aos desempregados, às vitimas de violência doméstica, às crianças abandonados, aos povos e nos países em guerra, à assistência social em geral, etc., etc.. Só se for maçonaria, ou aquelas entidades de “apoio” a grandes causas que gravitam à volta dos partidos da extrema esquerda… Mais, mesmo tu, se fores a uma Igreja ou a uma instituição dependente da Igreja, acolher-te-ão e tratarão de ti se necessitares. Deus te conceda muita saúde para não teres de passar por essa “suprema humilhação”.
Para terminar, a tua última tirada é mais que elucidativa: “nós contra eles”. Mas assume que o que te move é o ódio à Igreja e a tudo o que ela representa. Assume que, por tua vontade, não existiria Igreja Católica (nem qualquer religião, penso eu). Mas assume também a tua enorme intolerância face aqueles que pensam de forma distinta da tua. Assume a tua veia totalitária e o teu desprezo pela democracia e pelas liberdades, ou seja por tudo aquilo que permitiu viveres na sociedade em que vives. O “nós contra eles” é elucidativa. Avança, ateias já as fogueiras e começa a queimar católicos, muçulmanos, judeus, budistas. Queima também os livros dessas religiões e de quem ousar não professar o laicismo ou de quem usar símbolos religiosos. Mais uma vez se prova que os princípios das ideologias mais perigosas do século XX (comunismo, nazismo, etc.) andam por aí. Com outro nome, mais sofisticados, mas andam por aí. Aliás, em vez de Olho de Vidro poderias passar a designar-te Olho de Cristal, seria mais apropriado.
Mas tu dás-te o trabalho de ler o que se escreve e de tentar perceber o sentido do que se escreve? Eu ataquei em algum momento a tua fé? Eu sou intolerante porque não quero que a sociedade seja modelada de acordo com ideias de qualquer religião? Eu falei de queimar símbolos religiosos, de não deixar lugar às crenças religiosas, de banir a espiritualidade? Mostrei desrespeito por alguma religião? Que sabes tu da minha vida e do meu convívio com católicos para me pôr a tocha na mau e me colocar ao lado dos totalitarismos nazis e comunistas? Eu falei mal das obras sociais da igreja, porque até penso que falei bem? Volta a ler o que escrevi, e se te estás a passar por alguma razão, é problema teu, não me metas a mim. Eu sempre mostro profundo respeito pelo sentimento e a vivencia religiosa das pessoas, sem partilha-las. Não respeito a imposição de pensamento e é disso do que falei neste blog, e se essa imposição chegar a ter consequências, eu bem sei qual o lado no que eu ficaria. Se queres ver monstros no meu texto é teu problema, mas a mim não me insultes porque eu a ti não te insultei em momento nenhum.
Apenas dois exemplos do porquê da minha resposta:
"Reitero: com ideias medievais no século XXI não se vai longe (...) se a igreja católica mostrasse uma cercania aos verdadeiros problemas sociais..."; "Agora parece-me que, se nada mudar, é “nos contra eles”". Pode ser um problema de interpretação mas, entre outras coisas escritas, parece-me claro. Se te ofendi peço desculpa. Mea culpa.
Não é marcando 2 frases do conjunto do meu texto que justificas a minha tendência natural para queimar igrejas. É evidente que se alguém quer minimizar as minhas liberdades tomando por base qualquer ideia política ou religiosa, eu me vou opor, era o que faltava!!! Ficarias tu calado se o Estado decidisse banir as religiões ou o sentimento religioso? É curioso também como cortas a parte aonde falo da espiritualidade, na frase aonde acuso ao Vaticano de viver de ideias muito ultrapassadas. E sobre o meu conhecimento e respeito absoluto pelas obras sociais da igreja, deverias lembrar o meu post de 31 de Janeiro. Não me parece que eu seja um ignorante nem um mal-intencionado. Olha, o tema morreu para mim.
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