quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A travessia do Tejo e o ambiente em Portugal

Ontem, o ministério do ambiente deu luz verde para aquela que se designa por 3ª travessia do Tejo. Pelo que se ouve e se lê, fê-lo com algumas recomendações: portagens mais caras nas horas de ponta, limite de velocidade, etc. São recomendações, não condições. Por isso, o governo está livre para as seguir ou não. Parece-me bem.
Assim, vai o ambiente e a sua preservação em Portugal. Pode-se avançar, mas recomendamos aqui umas coisinhas. Não que tenham que segui-las, mas parecia mal dizer sim sem mais. Iria alguma vez o ministério do ambiente chumbar uma proposta do ministério das obras públicas ou de outro qualquer ministério?
Hoje de manhã, oiço, na RTP 1 uma senhora da Quercus indignada e a proclamar que a sua organização vai pôr uma queixa em Bruxelas. O jornalista pergunta-lhe que resultados pode ter essa queixa. Ao que ela responde, com satisfação, que pode impor uma coima ao Estado Português.
Eu não tenho excessivas preocupações ambientais e menos importância ainda dou às organizações pseudo-defensoras do ambiente. E este tipo de respostas basta para que eu não mude de opinião. Ou seja, um problema ambiental sensível resolve-se com: 1) umas recomendações, sem qualquer obrigatoriedade de serem cumpridas e; 2) com uma coima.
Calculo que o “ambiente” agradeça tanta preocupação com o seu estado.
Depois há a enorme demagogia e hipocrisia utilizada para defender a nova ponte: a melhoria da mobilidade dos cidadãos. Promove-se essa mobilidade, mas cobrar-se-ão portagens para reduzir o fluxo de trafico (por causa da poluição provocada). Faz-se uma nova ponte com três faixas de rodagem em cada sentido, mas limita-se a velocidade a 70 km (por causa da poluição provocada). Muitas preocupações com a poluição mas promove-se a entrada de mais uns quantos milhares de veículos em Lisboa. Mas para que não sejam assim tantos a entrar, pensa-se em cobrar portagens mais caras aos veículos que circulem só com uma pessoa.
Será que ninguém pensa a sério numa política de mobilidade integrada com as questões ambientais e económicas?
Já agora, só mais uma pergunta: eu quando compro um veículo pago o imposto automóvel (dos mais elevados da Europa), o IVA (dos mais elevados da Europa), o imposto de circulação, o gasóleo (onde os impostos incluídos no preço são dos mais altos da Europa), porque raio tenho de pagar mais se circular sozinho?
O Estado, quando eu compro o automóvel não se preocupa por haver mais um carro a poluir (quando mais se vendar melhor, pois maior é a receita fiscal), quando constrói mais uma ponte para (com fins muito pouco claros) “facilitar a mobilidade” não se preocupa com a acréscimo de poluição daí resultante, quando não faz respeitar os corredores bus não se preocupa com o tempo perdido na circulação dos transportes públicos, mas preocupa-se apenas com os carros com uma só pessoa. Isto é, claramente, uma restrição à minha liberdade de ter e de usufruir do meu carro.

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