sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Bancos apertam os outros

O Banco de Portugal publicou os resultados do "Inquérito aos Bancos sobre o Mercado de Crédito", de Janeiro de 2009.

Pode ler-se também aqui.

Contrastando com os anos de concessão quase desenfreada de créditos, os bancos revelam estar a restringir o acesso, a empresas e particulares. Com as justificações de que o preço do dinheiro está muito alto, os famosos ratings não ajudam, que o risco associado é elevado, o incumprimento também, as instituições que respondem ao inquérito resolvem restringir o acesso.

Desta forma, os meios escolhidos são: aumento dos spreads, aumento das comissões, diminuição dos montantes, aperto nas avaliações e relações financiamento/garantia, exigência de mais garantias ou ainda taxas de esforço mais baixas.

Se posso concordar num aperto nos critérios de concessão, com uma maior prudência, procurando evitar o incumprimento, não concordo de todo com estas medidas em simultâneo.

Há muito que sou a favor de um maior cuidado na concessão, partilhando-se a responsabilidade, cabendo a quem pede saber até quanto pode ir, mas também a quem dá, definido até quanto poder aquele receber.

Durante anos, o critério dos bancos foi suplantado pelos objectivos de resultados que levam ao lucro. Deixou de se ter cuidados, não interessava se haveria condições para o pagamento das prestações, o que interessava era vender. Quanto mais créditos, mais clientes, mais cross-selling, mais comissões, mais juros.

Depois, veio a crise e lembraram-se de que era preciso ter cuidado. Depois de injecções de capital ou garantias estatais para a obtenção de créditos internacionais, os bancos adoptam as medidas mais restritivas, levando a dificuldades para as empresas investirem e para os particulares conseguirem adquirir, especialmente habitação.

Focando nos particulares, como se pode aceitar esta restrição por todas estas vias?

Nos créditos à habitação, concordo com a taxa de esforço mais baixa (p.e. não se deixar que um agregado possa contrair um crédito cuja prestação seja acima dos 30% do seu rendimento disponível) e que avaliem as habitações o mais próximo possível do preço real (aqui a dificuldade está em saber o preço de mercado, especificamente o factor localização).
Não posso concordar que aumentem o preço dos créditos (via spreads), que subam as comissões nem que os montantes sejam baixados, levando a que a classe média não possa conseguir comprar a casa pois não tem o capital inicial.

Nos créditos ao consumo, aceito melhor os critérios de restrição, pois é aqui que os particulares mais erros cometem, endividando-se acima das suas capacidades. O consumo desenfreado pode e deve ser limitado, cabendo a responsabilidade social aos bancos e aos governos.

Em alguns países europeus, já se levantam movimentos populares ou parlamentares para questionar a banca. Aqui talvez não falte muito.

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