Como mais ou menos se estava à espera, a polémica relacionada com o casamento homossexual está na ordem do dia. Agora são as declarações do cardeal D. José Saraiva Martins, residente no Vaticano há muitos anos, a fazer manchetes um pouco por todo o lado.
Este membro da Cúria Romana terá dito que o casamento homossexual não é normal. Também terá dito muitas outras coisas como, por exemplo, que o casamento entre pessoas do mesmo sexo é um assunto que diz respeito ao estado civil e que, por essa razão, a Igreja não se deve intrometer. Uma posição sensata, a meu ver.
O que dizer, então, da afirmação dsobre a anormalidade do casamento homossexual? Para mim, apenas há a dizer que tais afirmações têm de ser relativizadas tendo em conta o que pensa a Igreja Católica sobre o assunto.
Durante séculos, o casamento foi um assunto quase exclusivamente guiado pela Igreja Católica. A partir da inclusão do casamento no conjunto dos sacramentos católicos a Igreja passou a orientar, através do seu conjunto de valores, importantes aspectos da vida humana. Ao mesmo tempo assegurava que a perpetuação da espécie e, por arrastamento, a da própria Igreja, se fizessem dentro destes valores. Casamento, valores católicos, procriação e o sexo estavam, desta forma, indissociavelmente ligados entre si. Assim, para um membro do clero romano, não é normal haver casamento sem intuito de procriar, logo a “anormalidade” do casamento gay.
Penso que, ao contextualizarmos desta forma a afirmação do cardeal D. José Saraiva Martins, os brados mais ou menos exaltados que se fazem agora sentir sobre a anormalidade das suas declarações perdem um bocado o sentido. A não ser que pensemos que o cardeal quereria dizer que a homossexualidade é, em si mesma, uma anormalidade ou uma doença. Mas não quero acreditar nisto. Especialmente porque vivemos no século XXI...
De qualquer forma sou contra exaltações e argumentos exaltados. Venham eles de onde vierem. Não adicionam nada de útil a uma discussão séria. Sejam ela sobre futebol, economia ou, como é o caso, sobre o casamento homossexual. Já agora, aproveito para dizer que tenho achado os argumentos de quem é contra ridículos e pouco inteligentes. Dizem, que “não é o momento oportuno” (porquê?), que só sete países no mundo é que legalizaram este tipo de matrimónio (sim, e daí?), ... Enfim, para quem quer travar esta situação, são só tiros nos pés...
O casamento entre pessoas do mesmo sexo é, quanto a mim, algo que mais cedo ou mais tarde será uma realidade. Isto se não regredirmos, de um momento para o outra, para a Idade Média. É que, num estado laico, não faz sentido haver este tipo de restrições. Querem casar? Pois que casem. Não o façam é perto de uma igreja.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
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