Para quem ainda tinha algumas dúvidas sobre a orientação política e ideológica do novíssimo jornal i, nada melhor do que ler o editorial de hoje intitulado A política social não serve para nada de Martim Avillez Figueiredo.
Este texto cita, entre outros ilustres, James Watson que, para além de ser conhecido pelo seu trabalho pioneiro na descodificação do ADN, foi o autor de afirmações polémicas sobre África e as políticas ocidentais para o desenvolvimento deste continente. Segundo este cientista, estas estariam erradas pois assentam num pressuposto falso, a de que os negros são igualmente inteligentes aos brancos. (Ver mais sobre este assunto aqui; o editorial do i pode ser lido aqui.)
É claro que o que se escreve num jornal não flui apenas em função do que pensa o seu editor principal. Em todo o caso, o editor escolhido e, claro está, o que é revelado através da sua coluna de opinião, explicam, de certa maneira, por que razão determinadas pessoas e opiniões (e não outras) aparecem no resto do jornal.
O que mais me "chateia" nisto tudo é o não haver, logo à partida, uma identificação clara das posições ideológicas dos jornais. Pelo menos aquela que nortea a escolha dos seus colunistas e, claro está, a do seu editor principal.
Lembram-se da primeira edição o i? Falava em devolver aos leitores o gosto de ler um jornal e coisas do género. Prometia colunistas como João Carlos Espada, Ricardo Reis e, talvez para baralhar, Paul Krugman. Mas nada se disse sobre a orientação ideológica do jornal. Acho que, por uma questão de honestidade para com o leitor, ela deveria ser desde logo assumida. Mas compreendo que, num mercado pequeno como o nosso em que para sobreviver é necessário vender para todos, seja melhor fazer com que os leitores gradualmente se apercebam (ou nunca se apercebam) deste tipo de posições.
sábado, 23 de maio de 2009
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2 comentários:
Concordo plenamente que seria muito mais honesto a definição clara de uma orientação político-ideológica dos meios de comunicação social (não só dos jornais). Mas isso não acontece em Portugal com nenhum dos principais títulos no mercado. Porquê? Quanto a mim, devido a à dificuldade que temos (enquanto povo) de assumir claramente posições. Não gostamos de melindrar ninguém e pior ainda se esse alguém for o poder (político, económico, cultural, etc.). Ou seja, Portugla é, hoje, muito mais corporativo do que era há 30 anos atrás. Não se pode afrontar os poderes (sejam eles quais forem) pois é quase certo que se vai necessitar deles algures no futuro. Daí essa nebulosidade da nossa comunicação social.
Não tenho seguido a aparição do novo jornal “i”, basicamente porque já cheguei ao ponto de não me interessar pela maneira como a informação é servida pelos diversos meios (não só os nacionais). Será que o “i” foi pensado desde a “isenção”? Um belo argumento, principalmente de marketing… Gostava precisamente de ver mais jornalismo valente, isento, bem informado e acima de tudo bem-intencionado (o famoso 4º poder). Por desgraça, e como o colega RightWing acertadamente aponta, ninguém quer chatear o poder dos outros, porque quem sabe de quem vamos precisar no futuro. Se calhar, a assunção de posições ideológicas por parte dos meios poderia chegar a “libertar” alguns profissionais e provocar um verdadeiro debate ideológico-político a nível nacional, que hoje não existe (não, hoje fala-se de política, não se debatem ideias políticas). Mas como DeKuip apresenta, este é um mercado pequeno, no que há que vender a uma base de clientes alargada e, por definição, plural. Noutras palavras, esse pluralismo de leitores obriga a uma tomada de posição pretensamente isenta, mas que na realidade é só não comprometida.
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