quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Sobre a crise em Espanha

Podem ler aqui um interessante artigo de opinião sobre a crise económica em Espanha, com uma visão moderadamente optimista da situação, mas que marca um caminho que vai exigir um elevado compromisso político e, no mínimo, diversas medidas macroeconómicas pouco populares. Uma leitura que nos pode ajudar a reflectir sobre o que pode/deve ser feito por cá…

4 comentários:

rastanplan disse...

Extremamente interessante o artigo.

Cada um dos países chamados PIGS, Portugal, Itália/Irlanda, Grécia e Espanha tem os seu problemas específicos, pelo que os remédios terão de ser obrigatoriamente diferentes.

Comuns a todos eles temos a necessidade de alterar a composição da despesa pública, a qual é mais premente na Irlanda e na Grécia e mas também em Portugal.

Espanha tem o grave problema do desemprego associada a uma politica fiscal agressiva, o que não deixa muita margem de manobra, já que a medida mais óbvia não pode posta em pratica.

Itália está com uma politica fiscal austera, com um menor deficit, mas com um serviço da dívida muito pesado. Tem tido dos piores desempenhos da zona euro, situação que se irá agravar.

A Irlanda é um caso particular, tem sido muito afectada pela crise e pela falta de competitividade do Euro face à Libra. O paradigma de desenvolvimento também está a ser posto em causa.

Em qualquer um dos casos, excepto o da Grécia e talvez o Italiano, o defict não é o maior problema. Mesmo no caso Grego e Italiano, o problema deve ser relativizado, já que mesmo com o descontrole das contas públicas esta situação é bem menos grave do que o da generalidade dos países fora da zona Euro.

Em conclusão, parece óbvia a necessidade de alterar a politica monetária e cambial na união. A necessidade de implementação de medidas mas apertadas no controle de capitais para fora da UE, também parece óbvia, assim como algumas medidas de carácter proteccionista.

Não obstante o quadro cinzento que atravessamos, este é bastante benévolo quando comparado com a situação do ano anterior. Fundamental nestes tempos é manter a confiança e o optimismo e cuidar da dinâmica da procura privada.

Olho de Vidro disse...

É importante destacar que o autor do artigo não menciona a saída do Euro como solução aos problemas…

Sem dúvida, a política monetária da zona Euro tem acomodado perfeitamente os interesses (e também os medos atávicos) da Alemanha, mas com efeitos muito negativos sobre economias menos competitivas, capazes de poucos ganhos de produtividade (Espanha e Portugal, por exemplo) e altamente dependentes da cotação do Euro para colocar as suas exportações.

E a saída do Euro, poderá ser uma solução viável? Não de certeza. Se bem (como já foi comentado anteriormente neste blog) se ganha soberania na política monetária, por outra parte perde-se estabilidade. Imaginemos um PIGS a sair da zona Euro: a primeira medida seria desvalorizar convenientemente a moeda, expandir a base monetária. É uma solução a curto prazo excelente, mas que, lamentavelmente, não colmataria os problemas estruturais subjacentes. E mais: qual poderá ser o efeito de uma crise económica como a que estamos a viver num PIGS não apoiado na estabilidade do Euro? Temos um exemplo claro, a Islândia. Proteccionismo comercial? Pois, era o que faltava! Sair do Euro, dar o sinal de depreciação da moeda com o objectivo de fomentar as exportações, mas ao mesmo tempo limitar artificialmente as importações… Não é um sinal sério para os potenciais parceiros comerciais… E mais ainda: sair da zona Euro em plena recessão? Qual poderia ser a paridade internacional da moeda do PIGS? Não ficaria muito abaixo do seu valor teórico, por pressões especulativas, o qual por sua vez também acarretaria efeitos negativos (pensemos na factura energética, por exemplo)?

Reafirmo o meu comentário no texto do blog: se calhar, e esquecendo medidas “radicais” (saída da zona Euro), a solução passa por criar, como base de acção, um amplo compromisso político nacional, para desenvolver políticas estruturantes em diversos sectores, por exemplo, reforma fiscal, investimentos de longo prazo em educação (não, não me serve o “novas oportunidades” como exemplo), etc. E no curto prazo, apoio ao desenvolvimento da procura interna e uma mudança de direcção da política monetária da UE. Mas cautela! A “economia do tijolo” (como se chamou em Espanha) tem, em teoria, um elevado efeito multiplicador no curto prazo, se bem no longo prazo… Bom, olhem para Espanha…

rastanplan disse...

Se estabilidade = estagnação então é claramente uma coisa má.

A Europa tem de encontrar a sua competitividade, nomeadamente com os EUA que crescem em maus anos a uma taxa de 4%, para isso é necessário abandonar as politicas monetárias e cambiais acomodaticias.

Claramente também os valores da estabilidade foram sobre valorizados, não representando uma mais valia suficiente para compensar a falta de dinamismo. As empresas preferem investir em economias menos estáveis mas com maior expectativa de crescimento.

O Euro só poderá ser salvo se for acompanhado com medidas mais restritivas ao nível dos movimentos de capitais e ainda por uma politica cambial mais agressiva.

Relativamente à saída do Euro, queria lembrar que qualquer destes países tem um historial de politica monetária e cambial credível, pelo que não é por sair do Euro que vão haver medidas radicais ou irresponsabilidade.

Relativamente aos pactos de regime para medidas estruturantes, sinceramente parece-me utópico pensar que são os governos que vão resolver os problemas da reduzida dinâmica da procura quando o problema de base reside na imperfeição dos mercados nacionais, imperfeições essas promovidas e acarinhadas pelos Estados membros.

O problema da competitividade é um problema de afectação de recursos que só poderá ser resolvido com o melhor funcionamento dos mercados e consequente redução do peso do estado na economia.

O excesso de subsidiação tem consequências...

rastanplan disse...

Relativamente à questão da apreciação /depreciação do Euro. O problema não é deixar funcionar os mercados, o problema é que o euro está a ser mantido a níveis artificialmente elevados.

Como é que uma economia menos competitiva como a do espaço Euro, vê a sua moeda apreciar-se constantemente face a economias mais competitivas como os EUA e UK, já para não falar dos BRICS...

A resposta não é difícil de encontrar e não é necessário recorrer a nenhuma teoria da conspiração.