Recorrentemente lá vem a questão da esquerda e da direita (eu continuo a acreditar que essa distinção faz todo o sentido). Esta semana foi um desses momentos, com a discussão dos “casamentos” homossexuais e do orçamento de estado. Ou seja, para governar o país, o PS só se consegue entender com os partidos da direita (partindo do princípio que o PSD é de direita – outra boa discussão) tendo todas forças da extrema-esquerda a classificá-lo de direita. Nas questões fracturantes o PS lá se entende com a extrema-esquerda, havendo a grande aliança das forças progressistas e modernas da sociedade (queira lá isso significar o que quer que seja). É verdade que Sócrates bem prega o seu posicionamento à esquerda e que, cavalgando a onda, até criticou a chamada economia de casino, que apregoa o regresso do velho amigo “Estado”. Mero oportunismo político. A “economia de casino” foi fomentada durante anos pelo PS e pelo próprio Sócrates (enquanto ministro e já como primeiro-ministro). O PS e Sócrates sempre viveu com, de e para ela. Até que houve uma crise maior que o costume. Ainda por cima a crise aconteceu em ano eleitoral. Acossado à esquerda, lá vociferou contra o sistema que o alimentou e que ele alimentou. Agora, sem maioria, tem de negociar. E com quem vai negociar: com os partidos da direita. Já nas discussões fracturantes, o PS impõe as suas origens esquerdistas. Que geralmente dão em trapalhada. Mas lá se consegue entender-se com a extrema-esquerda. Este comportamento alternadeiro, que ora vai com um ora vai com outro, torna-se, curiosamente, no principal problema da direita portuguesa que vê o seu espaço ocupado por uma força de esquerda que, naquilo que é verdadeiramente importante, governa à direita, e no acessório pisca o olho à extrema-esquerda.
Ou seja, com um PS mais social-democrata que socialista, à direita só lhe resta um caminho: o da sua refundação. Abandonar a bandeira social-democrata (ocupada pelo PS) e centrar-se numa política económica liberal que seja alternativa à social-democracia do PS. Ou seja, ocupar um espaço que nunca foi realmente ocupado nem explorado em Portugal. Não nos serve de nada ter dois partidos que apenas se diferenciam nas questões fracturantes. Urge haver alternativas de política(s).
Ou seja, com um PS mais social-democrata que socialista, à direita só lhe resta um caminho: o da sua refundação. Abandonar a bandeira social-democrata (ocupada pelo PS) e centrar-se numa política económica liberal que seja alternativa à social-democracia do PS. Ou seja, ocupar um espaço que nunca foi realmente ocupado nem explorado em Portugal. Não nos serve de nada ter dois partidos que apenas se diferenciam nas questões fracturantes. Urge haver alternativas de política(s).
3 comentários:
Post interessante mas que pode ter, a meu ver, vários vícios de raciocínio. O primeiro é argumentar com base na ideia de que a política actual (em Portugal ou noutro lugar qualquer onde haja separação entre estado e religião…) pode ganhar/melhorar com a clarificação de bases ou bandeiras ideológicas de cada partido. Na minha opinião, isso não é seguramente verdadeiro. Como algumas das Crónicas da Boca do Inferno do humorista Ricardo Araújo Pereira nos lembram, bases teóricas políticas bem definidas é algo que se encontra dissociado da identidade do PS e PSD há algum tempo. Talvez no caso do PSD isto seja mais antigo e crónico (apesar dos esforços de Sá Carneiro em afirmar o partido como um representante da social-democracia), mas de qualquer forma fazer política com bandeiras de uns e de outros é algo que, nos dias de hoje, é bastante corriqueiro (não só em Portugal, como é óbvio). E não me parece que venha grande mal ao mundo com isso, nem me parece que seja condição suficiente para se fazer boa política... Entro rapidamente no outro vício de raciocínio, que é o de sugerir que a refundação das bases ideológicas do PSD é a única via para a sua sobrevivência e crescimento. Penso que esta solução radical é passar por cima da capacidade regenerativa do próprio partido e, acima de tudo, da capacidade que os seus militantes têm para pensar o Estado e a forma de definirem o que é que são boas políticas para os cidadãos (Paulo Rangel dá um exemplo deste potencial de regeneração no seu livro O Estado do Estado, por exemplo). Finalmente entro no vício de raciocínio final, que é o da natureza da refundação: o do abandono das bandeiras “social-democratas” (isto é, mandá-las às urtigas e com isso tudo o que elas atingiram nestes 30 anos de democracia) e o da sua substituição por “políticas económicas liberais”. Acho perigosa esta ideia, até porque tem subjacente a ideia de que se pode substituir a democracia por mais economia. Poder-se-á fazer tal coisa? Certamente que sim, Thatcher já o fez, mas não sei se de facto terá grande apelo eleitoral em Portugal. Mais, penso que uma refundação deste tipo só irá trazer o fraccionamento do Partido e a sua consequente marginalização no contexto político português.
O comentário parece-me interessante, no entanto, o maior vício da democracia portuguesas reside precisamente na errónea dsignação dos partidos. O PS (de Mário Soares, Guterres ou de Sócrates, entre outros) nunca foi um partido verdadeiramente socialista, mas sim social-democrata. As referências eram o SPS alemão de Brandt e os partidos sociais-democratas nórdicos. Por outro lado, convém não esuqecer que o PSD começou por se designar PPD (Partido Popular Democrático), no entnato, fruto da época pós-revolucionária, rapidamente teve de moderar os seus impetos, repescando a social democracia. E nestes dois factos reside o grande vício do Portugal político pós-revolução. Dizer que em Portugal se seguidas políticas liberais (que a ser verdade teriam sido equitativamente praticadas por PS e PSD) é uma falsidade. Não há em Portugal um partido liberal em termos económicos (deveria ser o PPD). Como se pode falar em liberalismno copm o Estado presente em tudo o que os privados fazem ou pensam fazer. E a culpa (já disse várias vezes não é exclusiva do "Estado" é sobretudo da classe empresarial portuguesa habituada a viver sob a alçada desse Estado que depois contestam quando lhes dá jeito). O movimento de refundação que defendo devria ser feito à custa do PSD mas não de dentro do PSD. O PSD neste momento é um partido completamente gasto, sem rumo, sem qualquer tipo de coesão (a não ser a busca do poder) e um autêntico ninho de vespas. O único lider que irtá conseguir unir o partido será aquele que, por sorte, estiver na liderança quando o PSD voltar a ganhar as legislativas. E será sempre circunstancialmente.
Na minha opinião um partido (PS) que defende um politica restritiva de rendimentos e preços não pode ser um partido de esquerda e um partido (PSD) que defende o aumento de impostos não pode ser de direita.
Já na questão do casamento gay parece que não há esquizofrenias.
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