Num livro que ando a ler deparei-me com a reprodução destas frases escritas por um escritor italiano.
“It often happens these days that you hear people say they’re ashamed of being Italian. In fact we have good reasons to be ashamed: first and foremost, of not having been able to produce a political class that represents us and, on the contrary, tolerating for thirty years one that does not. On the other hand, we have virtues of which we are unaware, and we do not realize how rare they are in Europe and the world.“
In Reappraisals, de Tony Judt, pp. 48
O escritor é Primo Levi, sobrevivente do Holocausto e autor de Se isto é um homem. Segundo Tony Judt, uma das virtudes a que Primo Levi se estaria a referir seria a relativa despreocupação com que os italianos encaram as diferenças nacionais e étnicas.
Ao ler estas frases, escritas há mais de vinte anos atrás (o escritor suicidou-se em 1987), não pude deixar pensar na Itália actual, em Berlusconi, na divisão que o Primeiro-ministro provoca entre os seus conterrâneos (visível até nas reacções sobre a sua recente agressão em Milão) e em coisas como a recente aprovação de legislação a equiparar a imigração clandestina a crime que, na linha de pensamento de Primo Levi, talvez devessem ser consideradas muito pouco italianas.
Talvez os italianos tenham mudado. Ou será que a incapacidade em criar uma classe política que os represente um argumento válido na Itália dos dias de hoje? Há coisas que são difíceis de mudar...
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2 comentários:
Como bom povo latino, assemelham-se a nós (ou vice-versa). A questão da despreocupaç~
ao com as difernças étnicas é uma questão claramente datada. Se o autor se suicidou em 1987, a questão da imigração não era sequer tema de discussão, por isso as diferenças étnicas seriam inexistentes. Poderiam haver diferenças de mentalidade e de cultura norte/sul, mas não questões étnicas. Agora (séc. XXI) a situação é claramente distinta. E também o é em Portugal: basta ver a bonomia e simpatia como os imigrantes (particularmente os brasileiros) eram recebidos até 2000 e como são as actuais reacções. Quanto à brutal agressão a Silvio Berlusconi, penso que não pode haver outra reacção senão de lamento e repulsa. A Itália é uma democracia, com eleições livres e justas e como tal, quanto a mim, não cabem atitutdes violentas a quelquer um a que elas se dirijam. Aliás, pareceu-me do mais elementar, os gestos de solidariedade e conforto dos primeiros ministros e chefes de estado da Alemanha, Reino Unido, França, entre outros. Parece-me chocante o primeiro ministro português não ter feito o mesmo (que eu tenha tido conhecimento)
A questão da imigração poderia não ser uma preocupação em 1987, mas a limpeza étnica que o autor viveu estava bem presente na escrita dele (bem como o sentir que se tem de mudar de vida ou se é impossibilitado de seguir um rumo por causa de leis baseadas na etnia ou na origem das pessoas). Os alemães durante a II Guerra Mundial sempre tiveram muita dificuldade em fazer cumprir a Solução Final em Itália (só conseguiram fazer mais do que queriam lá para o fim do conflito quando a Itália se dividiu em duas: o sul ocupado pelos americanos e o norte pelos alemães). Isto em parte por causa da bonomia (para usar uma palavra que usas bem) dos italianos em relação a estes assuntos. Em relação à agressão de um Primeiro-ministro por uma réplica do Duomo de Milão (parece que se estão a vender-se bem agora!), é óbvio que só se pode lamentar. Mas também acho que o Berlusconi deve dormir bem por o Sócrates não ter dito nada... (se calhar porque nenhum jornalista lhe perguntou nada sobre o assunto; acho que eles agora preferem falar do casamento gay.) Um abraço!
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