Chamaram-me à atenção para este pequeno post de Paul Krugman que, por sua vez, remete para um outro blogue sobre economia.
A questão explica-se de uma forma simples. Numa Europa de moeda única, a forma (mais imediata) de aumentar a competitividade externa é através da redução dos custos salariais (a outra forma é através do aumento da produtividade, mas essa é mais difícil de atingir...).
Esta tem sido, aliás, a via que muitos países estão a seguir, Portugal incluído.
O problema é que como os maiores parceiros externos das economias europeias são também europeus, o modelo acabará por não funcionar...
E porquê?
Porque uma política de cortes salariais oprime a procura interna que, por sua vez, originará menos importações. E de onde vêm essas importações? De outros países europeus, pois a economia europeia está muito integrada.
E se todos optarem pela mesma coisa (i.e. cortes salariais), o efeito perverso que a diminuição da procura interna terá nas exportações de outros países europeus será multiplicado...
sexta-feira, 12 de março de 2010
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4 comentários:
Em minha opinião, estamos claramente no limite das capacidades do pensamento económico ortodoxo europeu.
Os pensadores americanos, onde se insere Krugman, parecem estar visivelmente mais adaptados aos novos paradigmas da economia mundial, com consequências visíveis na performance dos dois blocos económicos.
Procurar a competitividade de uma economia através da redução dos salários é não compreender o novo paradigma da economia.
As expectativas de vida actuais dos europeus não se coadunam com actividades de reduzido valor acrescentado, nunca seremos competitivos com as Índias e as Chinas deste mundo, e não estamos dispostos a abdicar dos nossos estilos de vida para o sermos.
Mas haverá alternativas?
Claro que sim, a alteração do paradigma de desenvolvimento ditou a mudança da economia de recursos para a economia do conhecimento. O desenvolvimento económico num mundo global não é ditado pela propriedade dos recursos mas sim pela capacidade de gerar conhecimento. Os centros de desenvolvimento não são as economias produtoras de produtos mas sim as produtoras de serviços e conhecimento e consumidoras de produtos.
Krugman está certo no cepticismo da eficácia das medidas de redução dos salários, não só porque se em vez de termos reduções localizadas de salários esta se generalizar, levando assim à deslocação da curva da procura e a fenómenos de desinflação, mas também porque iremos assistir ao deslocamento da curva da oferta.
Nunca poderemos migrar para um paradigma de economia de conhecimento se continuarmos a desvalorizar o seu activo critico. Se não valorizarmos o trabalho, como poderemos querer liderar este movimento?
Esta minha afirmação poderá parecer pura retórica, mas é aparentemente confirmada pela realidade em que vivemos contrariando os ensinamentos da economia mais ortodoxa. Portugal é dos países mais competitivos ao nível do factor trabalho, não obstante temos problemas ao nível da competitividade na nossa economia.
Dizem que a causa é a produtividade, mas se continuamente retiramos capacidade para produzir valor dos activos mais importantes desvalorizando-os, como é que podemos aumentar a competitividade?
Um engenheiro ou consultor, ou mesmo um operário fabril alemão é mais produtivo do que um português, porque as competências são superiores ou porque lhe é atribuído maior valor?
Como poderá uma empresa de serviços valorizar o seu output se menoriza os inputs produtivos?
Como consumidor é óbvio que não só irei preferir os serviços de consultoria e engenharia alemães, como estarei disposto a pagar mais pelos serviços de um empregado de mesa alemão (ou a qualquer emigrante que lá esteja a trabalhar).
Para caminhar para um futuro mais radioso temos de ter consciência deste Paradoxo óbvio, quando reduzimos os salário e contratamos barato estamos a reduzir a nossa proposta de valor enquanto empresas e comunidade
Um ponto de vista muito interessante! E não podemos esquecer o efeito da redução dos salários no mercado interno… À vista das receitas dadas e das medidas a ser tomadas, parece-me que vamos a viver um ajustamento muito forte do sistema económico europeu, de consequências ainda por apurar. Congelamento e até redução do valor real dos salários querem dizer redução da capacidade de compra, não só produção mais barata de bens e serviços. Por sua vez, isto leva a menor capacidade de compra, menor despesa, enfraquecimento da procura interna e redução da procura de bens e serviços tanto produzidos pelos factores nacionais como internacionais (e cá é que entra o problema apontado pelo Krugman sobre a elevada integração do mercado interno da UE).
Parece-me que não estamos a falar de uma recessão, estamos a falar de uma crise muito grave do sistema capitalista em geral, mas com um forte impacto na UE, pela sua própria idiossincrasia. E então as soluções?! Será que estaremos à beira de uma vaga de proteccionismo? Eu sei, eu sei, não pode haver restrições ao livre trânsito de bens e pessoas dentro das fronteiras da UE… O que me leva a pensar em duas opções:
1) Esta crise é mais um prego no caixão da união monetária em primeiro lugar e da UE em segundo lugar (ou, pelo menos, do modelo de união que temos hoje)
2) Haverá que procurar mercados para as exportações dos estados membros fora da UE, o que me parece muito difícil, dado que:
- Os EUA não estão para grandes despesas, pois já perceberam que estão há muito tempo a viver por cima das suas possibilidades
- Não me parece possível tentar concorrer com os produtos da Ásia, em termos de preço (isso sim seria o colapso final do nosso modo de vida, como bem aponta o José)
Há um exemplo muito interessante na história económica mundial com certas similitudes: a “Long Depression of 1873-1896”, despoletada precisamente pela necessidade das grandes potências económicas da época de reduzir os custos de produção e colocar os seus excessos de produção de bens manufacturados. O resultados foram o auge do proteccionismo, a “corrida para a África” à procura de matérias primas baratas e novos mercados para as importações.
Mas afinal que foi a invasão do Iraq, se não uma tentativa dos EUA de controlar um recurso à moda antiga, à moda colonialista? Que está a fazer a China em África, de uma maneira muito mais civilizada, assegurando importações de recursos naturais e exportações de bens manufacturados e serviços? Será que a UE (ou os seus países individualmente) terão que entrar nesta corrida do “post-neo-colonialismo”?
Em minha opinião não podemos falar de uma crise dos sistemas capitalistas mas sim da alteração de paradigmas, o que nos levaria a uma discussão mais prolongada.
Procurar nas politicas de substituição de exportações, e alicerçar essa politica na redução do custo do factor trabalho, como uma via para sair da crise parece-me não só profundamente errado como manifesta a falta de capacidade de visão do problema.
A politica de rendimento e preços tem o seu lugar no quadro das medidas anti-inflacionistas, e ninguém discute o seu mérito, mas como via de desenvolvimento, parece-me extremamente míope.
Em primeiro lugar porque se pode garantir o desenvolvimento das economias sub-desenvolvidas, estas politicas não são condizentes com as nossas aspirações como europeus ou portugueses.
As nossas aspirações são iguais aos dos países do 1º mundo, o que implica salários de 1º mundo, o que tem como consequência que se produzam produtos e serviços de 1º mundo, isto é produtos com forte incorporação de valor.
Mais, as politicas de controlo dos rendimento e preços (por exemplo típicos dos finais do estado novo)fazem sentido em economias fechadas com escassez de capital. Aqui a lógica passa por colmatar insuficiência do factor capital incentivando a acumulação capitalista, o qual irá permitir maior utilização do factor trabalho e consequentemente a expansão do produto.
Num mercado global com perfeita liberdade de circulação de capital não faz sentido seguir esta lógica, primeiro porque não há deficiências no mercado financeiro (não há falta de capital para investir) e em segundo lugar porque os lucros gerados pela exploração do factor trabalho barato não serão necessariamente investidos nestes locais para permitir o seu desenvolvimento, porque se o forem vão por em causa o próprio modelo de desenvolvimento, já que tornam a mão-de-obra mais cara.
Em suma, a adopção destas politicas não gera um sistema estável. Mais o problema dos PIGS,e nomeadamente o problema português é que chegou ao limite do sistema, e agora verificasse a sua insustentabilidade, já que a manutenção dos níveis de vida desejados tem sido feito artificialmente por intervenções dos governos, não permitindo à economia a transição para modelos de valor mais elevados.
As contradições do sistema revelam-se em múltiplas formas sendo para mim a mais evidente aquela de querer migrar para propostas de valor mais elevado com uma politica de controle salarial, já que se os salários são baixos o incentivo será produzir bens que sejam trabalho intensivos.
Se queremos fazer a transição para modelos mais desenvolvidos os salários têm de aumentar obrigando o sistema económico a encontrar formas de produzir valor com salários elevados e consequentemente maior produtividade.
Se garantirmos o perfeito funcionamento do mercado, os ajustamento serão poderosos e farão o seu papel. As têxteis vão ter de fechar e em seu lugar vão nascer novas empresas, com algumas a endereçar o mercado externo, mas com a maioria a vocacionar-se para o mercado interno.
O potencial de desenvolvimento reside no dinamismo da procura interna e não nas exportações, aliás é a minha firme convicção que só poderemos exportar os bens e serviços que sejam competitivos no mercado interno.
Só dois pequenos comentários: 1) É certo que os principais parceiros comerciais dos Estados Membros (EM) da UE são outros EM da UE. No entanto, não nos podemos esquecer que alguns EM também exportam para fora da UE e mais, que as exportações de EM da UE para outros EM da UE também sofrem concorrência das exportações de países terceiros para EM. Ou seja, nada impede um EM de substituir um outro EM por um país terceiro como fornecedor de bens; 2) Discordo totalmente de economias baseadas em serviços por muito avançados que sejam e por grande incorporação de tecnologia que tenham. Tem que haver uma base produtiva mínima, sólida e competitiva.
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