sexta-feira, 2 de outubro de 2009

O (enorme) melão de Louçã

Subiu no nº de votos. Subiu em percentagem. Duplicou o nº de deputados (+8). Ás 20h00, parecia que ia ser uma grande noite para o BE. RTP e SIC punham-no em 3º lugar firme (tanto em % como em nº de deputados – 18 a 22, dizia-se). Apenas a TVI destoava e punha o CDS/PP em 3º lugar. A ajudar a festa, o PS perdia a maioria mas o BE (ou o PCP) seria suficiente para gerar uma maioria na Assembleia e impor as suas propostas. Fazenda faz a primeira declaração. Júbilo nas hostes bloquistas. A SIC começa a corrigir dados e coloca a hipótese do CDS/PP ficar percentualmente à frente do BE mas com menos deputados. Rosas faz a segunda declaração da noite. A exaltação das hostes continua grande. Louça faz, finalmente, a sua aparição. A pose típica de tele-evangelista, sorriso de orelha a orelha e o tom, também típico, de educador das massas e de dono da razão e da verdade. Não confundir com arrogância, superioridade ou pedantismo. Não, na esquerda esses tiques não existem. Felizmente, para ele, Louçã falou cedo e sem os resultados finais. Evitou o grande melão da noite.
Afinal o auto-proclamado candidato a 1º ministro ficou em 4º lugar. Ultrapassado pelo CDS/PP (que elegeu mais 9 deputados que há 4 anos).Não chegou aos 10%. Elegeu apenas mais um deputado que o PCP (16 contra 15) e, para piorar as coisas, o resultado do PS ficou no limite mínimo esperado pelas várias projecções. Que quer isto dizer?
Bem, o BE aumentou o nº de votos em 200 mil, é verdade. Duplicou o nº de deputados, é verdade. Mas de que lhe servem esses votos e esses deputados? Para nada. A não ser para ganhar mais uns trocos no financiamento público dos partidos, o que já não é pouco. Não esquecer que o afã do BE pelo “vil” metal até os levou a votar a favor da ignóbil lei do financiamento dos partidos (depois vetada pelo PR).
Ou seja, para Louçã vai o melão da noite eleitoral. Depois de tanto prometer nas sondagens e nas projecções, ficou-se com uma mão cheia de … nada. Só para ver este epílogo valeu a pena assistir até ao fim à noite eleitoral.

PS: Parabéns ao PS (ganhou as eleições) e ao CDS/PP (que grande resultado!!!) e à TVI, o único canal que, a exemplo do que acontecera nas eleições europeias, acertou quase em cheio no escalonamento e nas % dos diversos partidos.

4 comentários:

Olho de Vidro disse...

Caro colega RightWing: de facto, o triunfalismo do BE na noite eleitoral foi bastante triste, especialmente o discurso arrogante do seu líder, e mais ainda tendo em conta que o terceiro lugar foi inicialmente tomado por eles como seguro, caindo depois do lado do CDS/PP.

Não sei se o objectivo do BE era formar governo com o PS. De facto, é bem sabido que quando chega o momento de avaliar nas urnas uma coligação de governo, são normalmente os partidos minoritários os que recebem a pior avaliação. Pode que a estratégia seja “tocar o poder”, para dar experiência no governo ao partido. Ainda assim, a coligação é sempre uma aventura arriscada… Se calhar o objectivo era mais “domesticar o poder” do PS através de acordos para apoios parlamentares específicos. Esta é sempre uma estratégia mais cautelosa. Mas afinal a matemática acabou por falhar…

Mais um comentário: percebo o sentido da afirmação que faces “Mas de que lhe servem esses votos e esses deputados? Para nada”, mas parece-me um pouco limitada. Não se lhe pode negar ao BE o mérito de ser o primeiro partido de esquerda (não centro-esquerda), ainda mais sabendo que é um partido relativamente jovem e que sempre teve que lutar com o tradicional partido desses lados, o PCP. E mais: muitos cidadãos votaram no BE, pelo que esses deputados devem servir agora para um fim muito específico, nada mais e nada menos do que a representação democrática dos seus apoiantes.

E ainda o comentário final: espanta-me a capacidade da imprensa, analistas e políticos para marcar como “instável” ou “governo para menos de 2 anos” a maioria do PS. Em Espanha PP e PSOE governaram várias vezes em minoria desde 1975, sem coligações de governo, através de pactos post-eleitorais com diversas forças políticas, na forma de apoios parlamentares específicos. Todos esses governos chegaram ao fim dos seus mandatos sem eleições antecipadas… Porquê é que os portugueses acham o país ingovernável? Não é até certo ponto uma atitude irresponsável?

RightWing disse...

Também não sei porque terá de ser ingovernável. Mas parece-me que essa sensação decorre da irresponsabilidade dos próprios políticos. Da esquerda à direita e a começar por Sócrates e pela forma como exerceu o seu 1º manadato. Quanto à utilidade dos votos, é claro que representam os muitos milhares de cidadãoes que nele votou, mas em termos políticos serve de muito pouco, na medida em que, sózinho, não pode influenciar o PS na governação.

Olho de Vidro disse...

E ainda outro pormenor: também não é saudável mudar os líderes dos partidos cada vez que acontece uma derrota eleitoral. Isso quer dizer que a única responsabilidade dos líderes é ganhar eleições, o que está bem longe de ser a sua verdadeira responsabilidade. É uma parte importante, mas não a única! Parece-me outro sinal da irresponsabilidade generalizada da classe política do país. Pobre MFL...

RightWing disse...

Mais uma vez: completamente de acordo. A qualidade do político e das políticas que defende não se esgotam nas campanhas eleitorais. A qualidade da oposição realizada e a consistência do que defende deve ser valorizado em detrimento de vitórias, muita vezes "acidentais".