quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Viva a República?



Estes dias de verão, no que os jornalistas se submergem nas habituais “summer trash news”, ninguém estava a espera do “golpe de efeito” levado a cabo por uns cidadãos monárquicos, e que consistiu na substituição da bandeira da cidade de Lisboa pela bandeira monárquica.

Penso que se trata mais uma acção publicitária do que política, magnificada pela falta de notícias à séria (para alem de constituir delito punido por lei, mas com estado da justiça já sabemos no que vai dar). Ainda assim, e dado que não temos coisa melhor para fazer (tirando o quiz palerma sobre a nossa orientação política), peço a vossa opinião sobre o assunto, adiantando ainda as minhas questões e visões sobre o mesmo:

1) Desde já digo: sou favorável ao regime republicano. Não percebo porquê numa sociedade moderna o máximo representante dum país deve sê-lo pela simples razão de que o seu trisavô já o tinha sido. A democracia e a igualdade de oportunidades (que não o igualitarismo) são conceitos indissociáveis;

2) O problema do país não se prende com a forma em que a máxima representatividade do Estado é feita. Prende-se com outros problemas cuja solução não é “com uma monarquia como a espanhola estávamos melhor”. Os problemas de funcionamento de Poderes do Estado (como por exemplo o judicial) estão na base do “estado a que isto chegou” (como disse o Salgueiro Maia);

3) Os monárquicos trocam bandeiras, mas não vão muito mais longe. O vasto território das propostas sérias de reforma continua por explorar;

4) Um argumento que tenho encontrado várias vezes (e que me resisto a qualificar de proposta séria) é que um monarca poderia garantir a “equidistância perante as demais instituições públicas” dado que “o Chefe de Estado Real emana da Nação e não de grupos de interesse”. Bem, emanaria da Nação se assim o decidisse a Nação… E se algum dia decidisse o contrário? Estaria disposto o deposto rei a aceitar a vontade do povo?

5) E ainda sobre a parte da equidistância anteriormente citada: será que não existem grupos de interesse a influenciar o poder real? Será que o rei é “santo” e não susceptível a favorecer certas pessoas/amigos? Hmmm, esse pretenso rei nem parece humano… Aliás, mais que descrever um rei, até parecem descrever um “outsider” salomónico. Se esse lugar ficar vago, eu proponho-me, dado que sou “outsider”, não tenho grupos de interesse aos quais servir e posso treinar para ser salomónico…

E pronto, a minha opinião é evidente: Viva a República por mais 100 anos no mínimo!!!

2 comentários:

DeKuip disse...

Olha, acho que estás a descurar muito o potencial das Monarquias. Uma Monarquia, especialmente se for uma daquelas bem arranjadinha, com muitos bailes de gala e reis/príncipes com tentência para beberem uns copitos e para darem facadinhas no matrimónio, têm um elevado potencial para atrair turistas (especialmente japoneses), e alimentar a imprensa cor-de-rosa. As monarquias deste tipo contribuiem, desta forma, para aumentar o produto interno bruto de um país... É ou não é um argumento espectacular?

RightWing disse...

Concordo com quase tudo o que o Olho de Vidro (homem vindo de um país monárquico) disse. E digo quase por uma
única questão: nunca refleti seriamente sobre o assunto e considero, já há muitos anos, que não se perderia nada em ter essa discussão e até, em referendá-la. Um, embora não o mais grave, dos problemas deste país é o facto de estarmos sempre contra tudo aquilo sobre o que, episodicamente, pode ser responsável pelo péssimo estado do país. Exemplos: monarquia e União Europeia. O referendo sobre cada uma das questões eliminaria a questão da legitimidade dos políticos tomarem decisões importantes sem ouvirem os cidadãos (sim, ninguém lê programas eleitorais). Estou perfeitamente convencido que essas duas questões deixariam de fazer parte das discussões com vitórias esmagadoras tanto do regime republicano como da integração europeia. No entanto, sublinho que, caso a monarca fosse a rainha da Jordânia (Rania ou mesmo Noor) ponderaria, seriamente, o meu voto.