sábado, 29 de maio de 2010

Populismo e falta de decoro

Esta semana, parado num sinal vermelho, chamou-me atenção mais um cartaz do Bloco de Esquerda, naquele estilo wharoliano de cores vivas. Era do género: “O cinto deles nunca aperta”. Entre os gestores “mimados” pelo cartaz estavam alguns gestores públicos mas também gestores privados. Eu pergunto: mas o que é que o Bloco, ou qualquer outro partido ou entidade (para além das finanças e da segurança social, por motivos óbvios) tem a ver com o que ganha Rodrigo Costa, Ricardo Salgado ou Paulo Azevedo?
A não ser que o Bloco de Esquerda tenha resolvido investir na bolsa (que blasfémia) e se tornou accionista da Sonae, BES ou de outras empresas privadas, qual é o interesse público em se saber quanto ganha um cidadão numa empresa privada? O Bloco, para além do populismo, padece de uma inveja crónica do sucesso dos outros e roça a mesquinhez e a falta de educação com essa bisbilhotice populista.
Eu, por mim, e se os accionistas das empresas privadas não se opuserem a pagar salários altos, também não tenho nenhum problema com isso. Não invejo o sucesso dos outros. Não acho que todos devamos ser pobres. Nem tão pouco acho que todos tenhamos de ganhar o mesmo. Mais, quando o dinheiro não é meu, não me preocupo com a utilização que os outros façam do seu dinheiro. A não ser que depois se venham queixar. Mas isso é outra história.
E já agora, será que o cinto dos dirigentes do Bloco também se aperta?

1 comentário:

Olho de Vidro disse...

É, de facto, uma campanha recheada de populismo barato, que tenta tirar partido do desespero e da raiva dos que foram golpeados pela crise. Lembro ainda que as informações sobre os gestores (tanto públicos como privados) foram já há semanas publicadas em vários jornais nacionais. Até acho que esses dados devem ser públicos, sempre que sejam usados para os fins adequados.

No caso das empresas privadas, como bem aponta o emérito colega RightWing, esses valores são da única incumbência dos próprios gestores e dos accionistas, os quais são os responsáveis últimos pela política de remunerações dos gestores de topo. É, sim, muito feito agitar as massas usando a inveja, senhores do BE.

No caso das empresas públicas, há muito mais a dizer, pelo menos desde o meu ponto de vista. Tomemos a EDP como exemplo, empresa “quasi-pública”, na qual o Estado controla 25% das acções e direitos de voto (5% a CGD e 20% a Parpública). Qual é a justificação para que o gestor de uma empresa quasi-pública que é um monopólio de facto receba bónus? Em que mercados abertos a uma concorrência feroz é que teve que lutar para ultrapassar as expectativas? Contra que concorrentes é que consegui demonstrar a sua elevada competência? Quais foram os objectivos marcados? Este, sim, parece-me um caso escandaloso. E especialmente tendo em conta que outros funcionários da República (sim, o António Mexia não deixa de ser um funcionário público MUITO bem pago) vão ser penalizados independentemente dos seus desempenhos por causa da crise que nos aperta…