quarta-feira, 14 de abril de 2010

A tolerância de ponto

Agora a polémica sobre a tolerância de ponto nos dias da visita do Papa Bento XVI a Portugal. Insurgiram-se diversas mentes inquietas: como é possível um Estado laico dar tolerância de ponto devido a uma visita de um líder religioso. Não vou entrar em considerações sobre a percentagem da população que é ou deixa de ser católica. Apenas três apontamentos:

1) Uma tolerância de ponto não é um feriado. Ou seja, não obriga ninguém a faltar ao seu trabalho. Exime os trabalhadores de registarem as suas entradas e saídas. Por algum motivo, em dias de tolerância de ponto é pago subsídio de refeição, mesmo que se “falte”. Por isso, espero que, sendo a religião católica, segundo os laicos, tão pouco representativa em Portugal haja pouca gente a “faltar” nos dias de tolerância de ponto e que as “virgens ofendidas” não se aproveitem dessa tolerância para se “baldarem” ao trabalho. Não vá a produtividade ser prejudicada…

2) Os que se preocupam com as quebras de produtividade e por mais uma tolerância devido à presença do Papa, geralmente não se preocupam com as tolerâncias de ponto anuais por altura da véspera do dia 25 de Dezembro (curiosamente um feriado religioso/católico), da tarde de dia 31 de Janeiro, da 3ª feira de carnaval ou da tarde de 5ª feira santa (curiosamente, outro feriado religioso/católico), só para citar as mais comuns;

3) Por último, e para sermos coerentes, levemos essa sanha laico / jacobina às últimas consequências e extingamos todos os feriados religiosos/católicos. Simples.

Claro que é fácil lançar uns soundbites sobretudo se o motivo for “privilégios” dados à Igreja Católica. Mesmo que não passem da mais baixa demagogia e populismo.

PS: anda por aí um grupinho de jovens a programar distribuir preservativos nos dias e nas cidades que o Papa visitará. Claro que é um acaso. Claro que não é para provocar. Será seguramente um gesto de cortesia. Deus lhes perdoe! E nos dê paciência…

5 comentários:

rastanplan disse...

1) Se os funcionários públicos querem ver o papa, que usem um dia de férias como toda a gente

2) Dois nãos não fazem um sim. Há demasiadas tolerâncias de ponto e pontes na Função Pública. Interessante ver quem se queixa do deficit das contas publicas não estar preocupado com a quebra de produtividade.

3)Completamente de acordo, mas devíamos ir um passo mais além e fazer como a religião católica fez, e substituir as mesmas datas por feriados republicanos...

5)E a amnistia ???? Isso é que era indicado para celebrar a vinda do PAPA..

RightWing disse...

Caro José, fico grato por ver que não rebate nenhuma das minhas considerações sobre o estéril debate levantado em torno da tolerância de ponto. Ou seja, quem for reponsável, não devia aproveitar-se de uma facilidade dada pelo Governo para faltar sem razão, que existe um sem nº de tolerâncias de ponto anuais que ninguém contesta e que se vereiam repensar todos os feriados religiosos existentes. Ah, e já agora a amnistia para coroar a lacidade do Estado.

DelhiVoice disse...

E o direito a tolerâncias de ponto aos outros crentes? Apesar de serem minorias, não têm os mesmos direitos?

Pelo post inicial, uma das justificações é que a maioria da população é católica (não ponho isso em questão, pois acredito que o seja), mas só as maiorias é que têm direitos? Parece-me uma forma clara de discriminação.

Olho de Vidro disse...

Concordo totalmente com o carissimo colega DelhiVoice, exemplo evidente de minoria oprimida!!!

RightWing disse...

Sem dúvida que as minorias têm direito aos os seus direitos. Desde que não sejam minorias religiosas (ou de crentes), como é óbvio num estado laico. Se for uma minoria étnica (aplica-se ao teu caso), já tem os seus direitos. Se for então uma minoria em termos de determinadas orientações, deve ter todos os direitos possíveis e imaginários.