O Cardeal Rouco Varela, responsável máximo pela igreja católica espanhola, fez hoje umas muito interessantes declarações sobre a vaga de escândalos sexuais que afectam à igreja nos últimos tempos. Para que não digam que faço propaganda anticlerical, junto a informação a partir de uma fonte idónea para estes propósitos, o jornal El Mundo. A notícia pode ser lida aqui.
O Cardeal Rouco Varela (conterrâneo galego) surpreendeu todos em Espanha com estas declarações, muito duras e até autocríticas. De facto, não seguem a linha marcada por algumas “figuras menores da igreja” (como as qualificou o caro colega bloguista RightWing, ainda que não concordo com a classificação por ele dada), e entoou um claro “mea culpa” sobre a mão pesada que a igreja deveria ter tido e não teve com muitos desses casos.
O Cardeal Rouco Varela nunca foi do meu agrado, pela sua maneira de gerir a hierarquia da igreja, em contínuo confronto com o poder secular, ultrapassando muitas vezes o que é razoável, e entrando em diversas ocasiões a fazer política. Nesta ocasião, a cúpula da igreja católica espanhola não poderia ter tomado uma posição mais digna e honorável.
Por outra parte, concordo com outros comentários dos nossos bloguistas sobre o aproveitamento anticlerical destes (gravíssimos) casos de abusos a crianças. Estes crimes hediondos não são exclusivos da igreja católica, mas sim transversais à sociedade. O problema é que, como bem apontam os bispos espanhóis, a reacção muitas vezes lenta e fraca da hierarquia católica tem dado sinais equívocos ao conjunto da sociedade. Estas situações requerem uma acção firme e rápida, o que muitas vezes não se tem verificado.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
A alusão às "figuras menores" deve ter a ver com a defesa do fim do celibato ou algo do género por padres de forma isolada, creio eu. Se estiver errado, corrijam-me. Quando à pedofilia no seio da Igreja Católica, é óbvio que o problema é grave e não pode ser deixado à justiça de Deus. Essa terá o seu tempo. No entanto, estes são crimes e ofensas a outros seres humanos e como tal devem ser julgados, antes de mais, pela justiça terrena e os culpados castigados. Outra coisa, é o aproveitamento feito. Não estou seguro que todos os casos sejam verdadeiros, mas devem ser investigados. Por outro lado, há que relativizar esta "crise" no âmbito da Igreja: não é o fim do mundo, nem o fim da Igreja, nem tão pouco a maior crise que Ela passa. E este é o risco de uma Igreja de Deus, conduzida por homens, com as suas próprias limitações. Parece-me que Rouco Varela esteve, de facto, muito bem. E sim, do pouco tempo que vivi em Espanha, parece-me que há uma intromissão demasiada da hierarquia católica na esfera política. Resquícios de outros tempos mas, muitas vezes, também emprurrada pelos próprios partidos políticos (tanto PP como PSOE e outros), ávidos de colher benefícios por via dessa acção.
O problema ignóbil da pedofilia não é transversal à sociedade nem se reflecte nas instituições sociais de igual forma.
Obviamente que este problema na igreja é gravíssimo muito mais grave do que na sociedade civil assim como o é em algumas outras instituições, nomeadamente as que lidam com crianças.
Lembro aqui o "problema" dos escuteiros, fundados e moldados à imagem de um famoso pedófilo, e que é constantemente ignorado pela nossa sociedade que tem esta instituição como uma instituição normal....
Outra questão que tem de ser ponderada é o impacto da pedofilia nas cúpulas das organizações. De que forma é que aqueles que partilham do mesmo vicio se encobrem, promovem e sustentam e de que forma expulsam os "não pedófilos" das hierarquias das organizações.
Temo honestamente que seja este o caso da igreja, assim como o poderá ter sido num partido politico laico onde recentemente eclodiu um escândalo similar, ou em colégios de elite que formam futuros dirigentes...
Enviar um comentário