quarta-feira, 5 de maio de 2010

Outra notícia da TSF

A avaliar pelo post anterior, a TSF está em grande neste blogue. Mas ao contrário do meu colega de página virtual, não vou falar do assunto "poeta Manuel Alegre". Não. Quero antes falar sobre a notícia da eventual descida do rating da dívida soberana portuguesa.

Desta feita é a Moddys que diz que o rating pode descer daqui a três meses. As justificações? Bem, segundo a notícia da TSF, que pode ser lida aqui, é devido à "recente deterioração das finanças públicas portuguesas" e, last but not the least, por causa "do desafio a longo prazo que a economia nacional enfrenta".

Nada mais óbvio e objectivo, diria eu!

Sim, porque como todos nós sabemos, ontem as finanças públicas estavam assim-assim e agora, -se lá saber porquê, estão mais deterioradas! E também como todos os mortais sabem, o desafio a longo prazo de Portugal, que a Moddy sabe muito bem qual é (mas eu não, infelizmente), foi descoberto mesmo agora.

Estas justificações são um verdadeiro espectáculo. E já agora, por que não usar o rating do futebol português nestas apreciações? É um critério tão válido como o desafio a longo prazo que a economia portuguesa enfrenta. Ou não?

7 comentários:

RightWing disse...

Pois é. As agências de rating há muito que são agentes dos mercados (financeiro). Mas têm clientes que actuam nesse mercado. Tal como os estudos, as avaliações e as auditorias, também as análises de os rating beneficiam aqueles que são clientes dessas agências. É complicado. Mas há muito que é assim. Não fossem, primeiro, as péssimas decisões político-económicas de países como a Grécia e Portugal (em menor escala, a Espanha e a Irlanda) e, agora, de países como a Alemanha (se bem que com alguma lógica) e ninguém se queixava das agências. No entanto, parace-me uma boa altura para se estudar a implementação de entidades de rating independentes (no âmbito da OCDE, por exemplo).

DeKuip disse...

Não. As agências de rating já andavam sob fogo cruzado. Quem é que não se lembra dos produtos de "lixo tóxico" com ratings de "cinco estrelas" destas mesmas agências? De qualquer forma concordo que é altura para pensar na construção de agências mais independentes...

RightWing disse...

Tens razão, as primeiras críticas a essas agências surgiram nessa altura. Mas as agências já vinham mais de trás. De qualquer forma, mesmo após 2007, ninguém mais se preocupou com isso. Os atingidos estavam essencialmente nos EUA, mais uns quantos na Islândia... tudo muito longe. Agora sim tocaram as sinetas. Parece-me tarde, mas enfim. No meu anterior comentário esqueci-me de referir mas estou claramente de acordo que a situação das finanças públicas não muda de um dia para outro. Mas, relembro que, houve muitos "velhos do Restelo" a anteverem esta situação (se calhar não imaginavam que poderia ser tão grave como parece ser) e foram apelidados de tudo. Mas não vale a pena repisar esse assunto. Agora é tentar minimizar as perdas.

Olho de Vidro disse...

Pois é, pois é… Quando tudo corria bem, quando produtos financeiros de solidez dúbia enchiam os mercados, as agências davam aos produtos e às entidades emissoras “AAA” (seus clientes), e empurravam o ciclo económico, e tudo era bom, e vendia-se merda (os títulos tóxicos) embrulhada em ouro (o rating). E o resultado? Grandes lucros para os ditos clientes, e por extensão para as agências, por terem feito muito bem o seu trabalho.

Quando a coisa deu para o torto e a crise iniciada pelo sector financeiro alastrou às economias nacionais, e as receitas de alguns estados ficaram por baixo do esperado despoletando a crise, as agências de rating embrulharam tudo em merda (até o que não era tal), fazendo descer as avaliações de vários estados. A consequência é que os países vão ter que pagar mais caro o seu endividamento às entidades financeiras internacionais, curiosamente em muitos casos os mesmos anteriormente mencionados clientes das agências de rating. E o resultado? Grandes lucros para os ditos clientes, e por extensão para as agências, por terem feito muito bem o seu trabalho.

Ora, ora, sempre os mesmos a ganhar… Concordo ao 100% com os eméritos colegas bloguistas, há que procurar outra via para a avaliação de riscos nos mercados, uma nova regulação que forneça verdadeira transparência sistémica e não incerteza, instabilidade e lucros extraordinários a um conjunto de agentes.

rastanplan disse...

Não me quero enganar mas penso que a Moodys não altera o nosso rating há bastante tempo. Também não me quero enganar mas penso que apesar do outlook negativo também consideram a dívida soberana atractiva mesmo com o downgrade do rating.

O grande problema de Portugal é o Medina Carreirismo que já borda a histeria dos meios de comunicação...

Já começa a ser consensual que estamos perante um mercado especulativo nos CDRS, os famosos swaps, dos países periféricos. Obviamente que tem impacto no preço da nossa dívida, mas nada de alarmante, especialmente se for entendido como tal.

Esperemos apenas que a exposição dos bancos portugueses aos CDRs não seja significativa, já que quando a bolha estourar vai haver perdas importantes.

So para finalizar, dizer que os media e especialmente o expresso se estão a comportar lamentavelmente, em grande parte devido á sua ignorância e ao desejo de transmitir noticias espectaculares e fazer caixa com a questão do risco de default.

Penso que esta questão se vai resolver rapidamente através de anúncios de introdução de legislação que reforce o carácter prioritário dos pagamentos da dívida soberana, que por exemplo nos EUA fazem parte da constituição.

Em jeito de curiosidade queria dizer que nem a Islândia que entrou em colapso fez default a dívida soberana, e não ha memoria de um país desenvolvido (acho que a Venezuela não se classifica neste grupo) alguma vez o ter feito.

RightWing disse...

Caro José, o problema dos mercados financeiros não são o carreirismo. As declarações do Medina CArreira e, cada vez mais, da grande maioria dos economista que vivem neste mundo, tal como as dos nossos governantes a distinguirem-nos da Grécia não ecoam, de todo, nos mecanismos do mercado financeiro. Já as notícias que todos os dias saem no Financial Times, no Wall Street Journal, no Economist, etc. sim. Seria bom que as crises se resolvesse tão facilmente. Mas o mercado é isto mesmo: um grande conjunto de agentes. Uns com excelentes intenções, outros nem por isso. Neste caso estão os especuladores com capacidade para manterem um braço de ferro com quem quer que seja e por um longo período de tempo. Já agora, mais uma infrmação, José: a dívida colocada ontem pelo Estado Português vai custar, em juros, cerca de 4 vezes mais que a colocada em Janeiro.

rastanplan disse...

Righwing:

Desculpe a minha ignorância, mas quando se refere à divida colocada pelo estado Português, está a referir-se a o que veículo especificamente?

A última serie de OT's colocada de 17 de Fev tem um cupão de 4.8%, não tenho conhecimento de mais alguma emissão. A anterior que datava de Março de 2009 foi com um cupão de 4,75%.

Convenhamos que as noticias efectivamente saem nos FT's e WSJ deste mundo, e que proeminentes economistas pronunciam-se sobre a situação portuguesa, o problema é que a ignorância dos media Portugueses e o Fanatismo dos Medinas Carreiras fazem interpretações erradas dos conteúdos.

Por exemplo, a Moodys noticia a revisão do rating e é noticia caixa e previsão do fim do mundo, quando na verdade ainda não tinha alterado o rating desde 1998, e emitiu uma opinião favorável à compra da nossa dívida.

Stiglitz fala dos ataques especulativos e fala da dificuldade da politica económica espanhola, fazendo uma insignificante referência e paralelo dos países com os bancos na altura da crise financeira, e o Público dá a noticia como Stiglitz diz que portugal pode falir...

Santa ignorância....