quarta-feira, 28 de abril de 2010
Desespero na Grécia
O Banco da Grécia abriu uma conta de solidariedade com o nome "SOLIDARITY ACCOUNT FOR REPAYMENT OF PUBLIC DEBT", em que pede contribuições voluntárias, exclusivamente destinadas ao pagamento da dívida pública.
O link para a notícia está aqui.
Para os curiosos, solidariedade em grego é αλληλεγγύη que se lê alli̱lengýi̱.
E se Carlos Costa abrir uma destas em Portugal, contribuem? Com quanto?
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Ainda acham que este país tem saída?
Uma deputada vai receber subsídio para pagar as suas deslocações a casa, todas as semanas. Nada de anormal, dirão. Não fosse o caso da casa da senhora ser em Paris e ela ter sido eleita pelo círculo eleitoral de … Lisboa. Um parecer jurídico deu razão à pretensão da deputada. Um ex-administrador da PT, cargo ao qual chegou seguramente pelo seu mérito, torna-se um mártir, vítima de calúnias, recusa-se a dar explicações a uma comissão de inquérito da AR por as suas explicações puderem ser usadas contra ele. Tudo normal se ele se considerasse culpado. Mas não, é uma vítima e as suas únicas palavras são para pedir desculpa a quem? Aos contribuintes? Aos cidadãos? Não. Ao … 1º Ministro. Percebo perfeitamente. Se tivesse chegado a administrador da PT, também agradecia ao 1º ministro ou a quem me tivesse lá colocado. Uma decisão do Tribunal da Relação confirma que um empresário ofereceu dezenas de milhares de euros a um vereador para tentar influenciar uma decisão da autarquia mas como, supostamente, se enganou na pessoa é ilibado. Aqui, valeu-lhe o facto de ser totó e ter falta de jeito para corromper. Ah, e os juízes que temos, ou a justiça que temos, ou as leis que temos. Entretanto, os juízes do ministério público acusam os advogados, estes acusam os magistrados judiciais. O Procurador Geral e o Presidente do Supremo Tribunal não se entendem, etc. O 1º ministro hoje, ao inaugurar um terminal de cruzeiros confessou a sua paixão por portos. Desde sempre gostou de portos. Do ar que se respira nos portos. Se inaugurasse um aeroporto seguramente confessaria paixão por aviões aeroportos e se inaugurasse a linha de TGV a sua paixão por estações e comboios. Seria preferível que confessasse uma paixão, mesmo que vaga, por Portugal e pelo seu destino, em vez de continuarmos a negar as evidências. Em Portugal e no estrangeiro vai-se generalizando a ideia que se a Grécia afundar, nós iremos logo a seguir (ah pois, já não são só os habituais “velhos do Restelo”). Basta ver as evoluções, quase paralelas das taxas de juro das obrigações e dos preços dos CDS de ambos os países. Os avisos de economistas estrangeiros. Mas o Governo e o Presidente da república continuam a exclamar as diferenças entre os dois países. Neste momento, Portugal é absolutamente ingovernável e, mais grave, sem vontade de ser governado. Basta saber até quando e com que custos. Tudo se paga. Mais tarde ou mais cedo.
segunda-feira, 19 de abril de 2010
Pederastia
O Cardeal Rouco Varela (conterrâneo galego) surpreendeu todos em Espanha com estas declarações, muito duras e até autocríticas. De facto, não seguem a linha marcada por algumas “figuras menores da igreja” (como as qualificou o caro colega bloguista RightWing, ainda que não concordo com a classificação por ele dada), e entoou um claro “mea culpa” sobre a mão pesada que a igreja deveria ter tido e não teve com muitos desses casos.
O Cardeal Rouco Varela nunca foi do meu agrado, pela sua maneira de gerir a hierarquia da igreja, em contínuo confronto com o poder secular, ultrapassando muitas vezes o que é razoável, e entrando em diversas ocasiões a fazer política. Nesta ocasião, a cúpula da igreja católica espanhola não poderia ter tomado uma posição mais digna e honorável.
Por outra parte, concordo com outros comentários dos nossos bloguistas sobre o aproveitamento anticlerical destes (gravíssimos) casos de abusos a crianças. Estes crimes hediondos não são exclusivos da igreja católica, mas sim transversais à sociedade. O problema é que, como bem apontam os bispos espanhóis, a reacção muitas vezes lenta e fraca da hierarquia católica tem dado sinais equívocos ao conjunto da sociedade. Estas situações requerem uma acção firme e rápida, o que muitas vezes não se tem verificado.
quarta-feira, 14 de abril de 2010
A tolerância de ponto
Agora a polémica sobre a tolerância de ponto nos dias da visita do Papa Bento XVI a Portugal. Insurgiram-se diversas mentes inquietas: como é possível um Estado laico dar tolerância de ponto devido a uma visita de um líder religioso. Não vou entrar em considerações sobre a percentagem da população que é ou deixa de ser católica. Apenas três apontamentos:
1) Uma tolerância de ponto não é um feriado. Ou seja, não obriga ninguém a faltar ao seu trabalho. Exime os trabalhadores de registarem as suas entradas e saídas. Por algum motivo, em dias de tolerância de ponto é pago subsídio de refeição, mesmo que se “falte”. Por isso, espero que, sendo a religião católica, segundo os laicos, tão pouco representativa em Portugal haja pouca gente a “faltar” nos dias de tolerância de ponto e que as “virgens ofendidas” não se aproveitem dessa tolerância para se “baldarem” ao trabalho. Não vá a produtividade ser prejudicada…
2) Os que se preocupam com as quebras de produtividade e por mais uma tolerância devido à presença do Papa, geralmente não se preocupam com as tolerâncias de ponto anuais por altura da véspera do dia 25 de Dezembro (curiosamente um feriado religioso/católico), da tarde de dia 31 de Janeiro, da 3ª feira de carnaval ou da tarde de 5ª feira santa (curiosamente, outro feriado religioso/católico), só para citar as mais comuns;
3) Por último, e para sermos coerentes, levemos essa sanha laico / jacobina às últimas consequências e extingamos todos os feriados religiosos/católicos. Simples.
Claro que é fácil lançar uns soundbites sobretudo se o motivo for “privilégios” dados à Igreja Católica. Mesmo que não passem da mais baixa demagogia e populismo.
PS: anda por aí um grupinho de jovens a programar distribuir preservativos nos dias e nas cidades que o Papa visitará. Claro que é um acaso. Claro que não é para provocar. Será seguramente um gesto de cortesia. Deus lhes perdoe! E nos dê paciência…