61%. Foi esta a percentagem com que Passos Coelho ganhou as directas para a liderança do PSD. Uma vitória que não deixa lugar a dúvidas ou a divisões internas. Nem Rangel, nem Aguiar Branco têm, para já, margem de manobra para fazerem uma oposição interna activa. Vamos a ver o que vai ser esta liderança. Claro que há os do costume (Pacheco Pereira, Menezes, Mendes Bota, etc., mas esses valem cada vez menos). Como escrevi há duas semanas atrás, gostava que a vitória de Passos Coelho significasse uma clarificação política e ideológica na vida partidária portuguesa. É óbvio que uma coisa são os discursos de campanha eleitoral, outra são as acções (que o diga José Sócrates ou a sua negação). Será Passos Coelho capaz de levar as sua propostas liberalizantes para um programa eleitoral e/ou de governo num país onde toda a gente vive agarrada ao Estado? Duvido. Mas, para já, dou-lhe o benefício da dúvida. Para já, parece-me que faz muito bem em libertar-se das amarras do PEC com que o PS e José Sócrates quiseram prender a nova direcção do PSD. Aliás, a artimanha de José Sócrates de fazer votar uma proposta de resolução de apoio ao PEC na véspera das eleições para uma nova liderança no maior partido da oposição há-de ficar como uma das mais baixas jogadas políticas dos últimos anos (deve ser o "fair-play" de Sócrates no seu melhor). Parece-me óbvio que nenhum dos candidatos que viesse a ser eleito para líder do PSD poderia viver sob essa chantagem e esse golpe baixo do PS. Mas não deixa de ser curioso e paradoxal que o PS, após essa sua jogada, venha pedir uma atitude responsável ao novo líder do PSD. José Sócrates no seu melhor, ou seja, no vale tudo da política.
domingo, 28 de março de 2010
quarta-feira, 24 de março de 2010
Europa (II)
Voltando ao tema postado pelo emérito colega DeKuip há um par de semanas sobre o que é a Europa, apresento hoje uma entrevista a José Enrique Ruiz-Domènec, historiador especializado na idade média, que acaba de publicar um livro intitulado “Europa, las claves de su historia”.
A entrevista, publicada hoje no El País, apresenta uma série interessante de pensamentos sobre a origem da ideia de Europa, como conceito sociocultural, desde uma perspectiva histórica. Um ponto que chama a atenção é que o historiador não identifica o início do “sonho europeu” com o desenvolvimento do império romano, mas sim com a sua queda e a invasão dos povos bárbaros. A entrevista vale mesmo a pena, e pode ser lida aqui.
quarta-feira, 17 de março de 2010
O aumento do IVA em Espanha
Esta medida parece que não será seguida em Portugal, dado que o imposto está por cá a níveis bem mais altos, deixando pouco espaço de manobra. Em Espanha, a medida está a provocar polémica, pois alguns membros com certa responsabilidade no Partido Popular estão a chamar à “desobediência”, à revolta dos cidadãos contra o novo imposto, até ao não pagamento. Esta atitude é, na minha opinião, vergonhosa e altamente irresponsável para um partido que pretende ser alternativa de poder democrático num estado membro da UE (pode que numa república das bananas, este tipo de estratégia política de oposição possa dar bons resultados, mas em países sérios não deverá ir longe). Aliás, Espanha é um dos países da UE com o IVA mais baixo, e um dos que menos arrecada por este imposto.
Insisto, é breve e vale mesmo a pena ler até o fim, pois acaba com certo “suspense”…
terça-feira, 16 de março de 2010
Entrevista da Sra. Lagarde (ministra das finanças francesa)
E para uma notícia sobre a mesma entrevista: aqui
Soluções tipicamente franceses, diria eu.
segunda-feira, 15 de março de 2010
As importações da Alemanha
Será que algum de vocês pode encontrar uma versão mais extensa das declarações da Ministra? Pode ser interessante, para assim poder indagar mais no assunto (e polemizar, que é o que a malta gosta!!!)
sábado, 13 de março de 2010
Quase rendido a Passos Coelho
Dois apontamentos interessantes
Chama-se "Salvar o euro" e apresenta uma solução para o problema que é referido no meu anterior post. Para o economista, a solução passa por mais coordenação das políticas económicas na Europa (algo que não existiu até aqui) e na assumpção de que países de economia forte, como a Alemanha, aceitem mais inflação... Uma solução talvez não muito crível, mas sempre é uma ideia de solução. O artigo pode ser lido aqui.
O outro apontamento que gostava de deixar aqui já tem algum tempo. Trata-se da entrevista do investigador de economia comportamental Dan Ariely no programa Pessoal e Transmissível da TSF. Vale a pena ouvi-lo. Garanto que não se vão arrepender. A entrevista pode ser obtida aqui.
sexta-feira, 12 de março de 2010
A batalha pelas exportações
A questão explica-se de uma forma simples. Numa Europa de moeda única, a forma (mais imediata) de aumentar a competitividade externa é através da redução dos custos salariais (a outra forma é através do aumento da produtividade, mas essa é mais difícil de atingir...).
Esta tem sido, aliás, a via que muitos países estão a seguir, Portugal incluído.
O problema é que como os maiores parceiros externos das economias europeias são também europeus, o modelo acabará por não funcionar...
E porquê?
Porque uma política de cortes salariais oprime a procura interna que, por sua vez, originará menos importações. E de onde vêm essas importações? De outros países europeus, pois a economia europeia está muito integrada.
E se todos optarem pela mesma coisa (i.e. cortes salariais), o efeito perverso que a diminuição da procura interna terá nas exportações de outros países europeus será multiplicado...
terça-feira, 9 de março de 2010
Europa
Pegando na questão actual dos problemas da Grécia, realça as fraquezas do projecto europeu através da ideia (que não é nova) de que o espírito subjacente à sua construção está, pura e simplesmente, a perder lugar na memória colectiva das gerações mais novas e dos actuais líderes europeus. E que memória colectiva é esta? É, por exemplo, a II Guerra Mundial. É, para dar outro exemplo, a melhoria das condições de vida das populações através da implementação de verdadeiros Estados-providência.
segunda-feira, 8 de março de 2010
Manuela tinha toda a razão
Obviamente que os apaniguados do PS, alguma comunicação social, bem como alguns humoristas transformados em opinion-makers políticos não quiseram saber e zombaram das intervenções de Manuela Ferreira Leite (MFL) na campanha eleitoral. E também das de Paulo Portas. Hoje, com a apresentação do PEC, e apenas 5 meses após as eleições legislativas, o que Sócrates vem fazer é dar toda a razão ao diagnóstico e às medidas então propostas por MFL. Suspensão de investimentos públicos (estruturantes para o país segundo Sócrates) como o TGV de Lisboa-Porto e Porto-Vigo e algumas auto-estradas (AE); introdução de scuts noutras AE; privatização de algumas empresas públicas (EDP, Galp, CTT, REN, TAP, seguradoras da CGD, etc.); maior rigor no “regabofe” (tão característico dos partido de esquerda) nas prestações sociais; congelamento salarial na administração pública, etc. Depois lá acenou à sua esquerda com um novo escalão no IRS (para rendimentos superiores a 150 mil euros). Se os eleitores votaram conscientemente, só podem estar muito insatisfeitos com este duplo mortal à rectaguarda do equilibrista José Sócrates. Claro que as medidas agora propostas eram e são inevitáveis. Eventualmente, ainda não serão suficientes. No entanto, Sócrates ganhou as eleições, mais uma vez, a prometer exactamente o contrario daquilo que prometeu. Por último, uma referência para o sentido de responsabilidade pedido por Sócrates aos portugueses. Espero que os trinta a tal por cento que nele votaram sejam os mais responsáveis e que não venham agora para as ruas protestar.
sábado, 6 de março de 2010
O poder de um sucateiro
O Diário de Notícias (DN) publica hoje uma das mais vergonhosas campanhas publicitárias jamais vistas na imprensa. Não que seja polémica. nem tão pouco pelos valores envolvidos. Trata-se de uma entrevista. Diria antes, uma peça de comunicação promovida, seguramente, por assessores de comunicação bem pagos e com poder de influência. Tanto poder que consegue publicar esta peça no DN (convém também não esquecer a que grupo pertence o DN). Esta peça foi feita por e-mail (envio das perguntas e das respostas, vários dias depois) ao senhor Godinho, apenas conhecido pelos negócios da sucata investigados pelo Ministério Público e que envolve … bem toda gente sabe quem é que envolve. E só o facto de envolver quem envolve é que justifica que o DN publique esta auto-defesa. Mas, claro que a defesa não se fica por si. Estende-se aos demais envolvidos. Diz maravilhas de todos os envolvidos. Tudo pessoas acima de qualquer suspeita, diria eu. Grande Godinho!
sexta-feira, 5 de março de 2010
Medidas de austeridade na Grécia
Alguém que tem uma memória mais longa do que a minha lembrou-me que os portugueses já sentiram na pele este tipo de medidas draconianas. Foi na década de oitenta, com Mário Soares a primeiro-ministro e o FMI a passar a receita para o reajustamento da economia após os excessos da Revolução de Abril. Nessa altura não foi um corte de 90% (30%+60%) mas a supressão total de um dos salários suplementares dos trabalhadores que foi implementado.
É bom ter a memória longa. Lembra-nos que os benefícios que muitos hoje em dia consideram como perfeitamente adquiridos no mundo laboral podem não ser, bem vistas as coisas, assim tão seguros como isso.
Por um lado esta consciência legitima e valoriza as greves e todas as manifestações feitas por quem luta pela sua manutenção. Mas por outro também nos faz lembrar que situações podem haver em que é mesmo necessário deixar de lado interesses sectoriais, corporativos e fazer sacrifícios por um objectivo comum. O problema nestas situações é mesmo esse; o de como fazer com que todos partilhem um objectivo comum. Até porque quantos mais houverem sem escapatória para partilhar o aperto do cinto, maior será o incentivo individual malandro para furar a fila dos enjeitados…
quinta-feira, 4 de março de 2010
Velhos VS Novos na governação
Já sei que este post vai gerar as já habituais reacções (escritas ou não) dos optimistas do costume (que, como já disse anteriormente, ainda bem que os há), como por exemplo, o meu caro amigo Dekuip. Ontem, o Dr. Medina Carreira deu mais uma brilhante entrevista, desta feita a Judite de Sousa. Já sei que vão dizer que não disse nada de novo. Já sei que vão dizer que falta formalizar as reformas que ele advoga como absolutamente necessárias (por ex., justiça, educação, leis anti-corrupção, etc.). Já sei que o vão apelidar de “Velho de Restelo”. Nada de novo. Mas a sua lucidez é absolutamente louvável. Tão mais louvável e brilhante que, o que se está a passar actualmente em Portugal foi previsto e antecipado por ele (também por Silva Lopes, Campos Cunha, Vitor Bento, entre outros) há muitos meses (ou anos) atrás. Era inevitável. Mas, Medina Carreira, ontem, levantou uma questão a que voltarei no meu próximo post: a experiência necessária para se ser governante. Dizia, mais ou menos isto: que para se tomarem decisões difíceis é necessário “ter-se” vivido, ter experiência, ser-se independente, ter passado por determinadas situações. Em resumo, ter tido uma carreira profissional. Eu quase que arriscaria a por as coisas nestes termos: por um lado temos os “Velhos de Restelo” com carreira feita, cheios de experiência de vida, de vivência do mundo real e, por outro lado, os “jovens lobos” de 30/40 anos, altivos, pedantes, convencidos da sua sabedoria (essencialmente partidária) e desprezando os primeiros. Ao contrário do que pensava à 15 anos atrás, estou cada vez mais convencido que estes “jovens lobos” não são parte de equação que pode ter a solução para os problemas do nosso país.
quarta-feira, 3 de março de 2010
Vítor Constâncio no BCE
Dado que o nosso blogue está ultimamente bastante chato e muito pouco saboroso (as estatísticas são interessante até certo ponto), cá venho eu propor um inquérito entre os nosso habituais sobre as perspectivas da partida de Vítor Constâncio para uma das vice-presidências do BCE. Leiam e escolham uma opção, ou comentem livremente (como é habitual), sff.
Acho que a partida de Vítor Constâncio ao BCE é:
1) Boa para o BCE e para a UE em geral, porque é uma pessoa competente que vai solucionar os problemas todos da política monetária da União
2) Boa para os alemães, porque arranjaram mais uma marioneta inofensiva e feliz (felicidade esta causada pelo belíssimo ordenado) e a coisa vai ficar na mesma
3) Má para o país, pois é mais um sinal da constante fuga de “crânios” nacionais para a emigração, forçada pela situação económica
4) Boa para o país, pois por lá o gajo não nos vai fazer muito mal, e até pode haver uma remota probabilidade de que seja nomeada uma pessoa relativamente competente para o BdP
5) Má para a UE, pois juntaram aos já habituais do BCE mais um que não percebe patavina do que está a fazer, e agora é que vão ser elas
6) Má para a humanidade em geral, pois esta nomeação é o nonagésimo nono sinal do fim do mundo (o centésimo é que vai ser a valer: Passos Coelho primeiro ministro)
7) Não sei, não tenho opinião, sou ateu
8) Outra, nenhuma das anteriores (escreve-la com rigor e seriedade)